TÔ SEM TEMPO, pra mim...

 

Era só uma quarta-feira,

Estava indo pro trampo,

Atrasada,

Não!

Em cima da hora, na verdade,

O uniforme um pouco úmido,

Não deu tempo de secar,

Passei o ferro umas quatro vezes,

Mas ta lá,

Na mochila,

Abafado,

A cabeças nas contas,

E nas crianças,

Que ficarão sem leitinho,

Só sábado,

Quando o VR cair,

Eu vou comprar.

Ele trombou em mim,

Ou eu nele,

Não sei,

Eu caí,

Ele foi gentil,

ME ajudou a levantar,

Aquela calçada me deixou imunda,

Quebrou a tela do meu celular,

Como eu ia ligar para os meus filhos?

Comecei a chorar,

O rapaz não entendia,

Afinal,

Quem ia me entender?

Minha vida só estava organizada,

Por que eu não parava de trabalhar,

Tenho as contas para pagar,

Passou mil coisas na minha cabeça,

Ele tentou me acalmar,

Mas eu já estava em outra dimensão,

Me ofereceu seu cartão,

Para as despesas com o celular alinhar,

E me deu 20 contou,

Que aceitei,

Pra comprar um cartão telefônico,

E ligar para os meus bebês,

NA hora do jantar.

Eu cheguei no trabalho,

Toda imunda,

A roupa estava até rasgada,

Olhei pra mim,

Sequei as lágrimas,

Eu nem estava atrasada!

Só apressada,

Tanta coisa pra fazer,

Sozinha,

Não...

Eu e Deus!

Ele me dá boas noites de sono,

E todas as manhãs força,

Energia,

Minha,

Que transformo em alegria,

Alimento,

Moradia,

Roupinha,

Pras minhas crias,

No final do mês a gente vai no MC,

E noutro dia pede uma pizza cheia de recheio,

E meus “bichinhos” pulam de felicidade,

O meu horário não permite que eu vá em todas as reuniões da escola,

Mas eu vou de manhã e já adianto tudo,

Com as professoras,

Coordenadoras,

Diretoras,

Com quem precisar falar,

EU sou nova lá no trampo,

Tô na experiência,

Por isso não posso demonstrar fraqueza,

Pra não ser demitida,

Sem direitos,

No outro serviço,

Minhas colegas não ouviram meu aviso,

E saíram com uma mão na frente e outra atrás,

Sujou a carteira,

Ninguém pega mais,

Só se quiserem fazer caridade,

Elas tiveram que ir fazer diária,

E tudo porque?

Não quiseram esconder,

Um pouco,

Quem são,

Humanas,

Que erram,

Falham,

Adoecem.

Dizem que quem faz faculdade vive melhor,

Não precisa se fingir de pedra,

Máquina,

Ou vassoura,

Encostada no canto,

Do banheiro,

Mass aqui a gente perde até o nome,

Vira “Oh FAXINEIRA!”,

“EMPREGADA”,

Quando não são gentis e nos chamam de “MARIA”,

A gente ri,

Feliz,

Receber o salário suado,

E não roubado,

Sugado,

Deus sempre abençoa,

As vezes o Pai do bebês arruma uns bicos,

E trás um dinheiro pra eles,

Eu logo levo eles no dentista,

Meu muleque quer colocar aparelho,

Quem sabe no ano que vem,

Com o dinheiro das minhas férias,

Acho que dá,

Arrumar os dentinhos tortos,

Ele não gosta,

Minha menina,

Tão pequenina já quer ser bailarina,

E imita,

As moças da TV,

É uma beleza de se ver,

E o pequeno só quer ficar vendo vídeo,

No Youtube,

Três aninhos e já sabe mexer.

É a modernidade.

Quando eu chegar tenho que lavar as cortinas,

Com essa chuva,

Vai levar uns dias pra secar,

Ainda mais pra mim que não tenho máquina pra centrifugar,

Acho que vou pedir pra Rosa bater na máquina dela pra mim,

Rapidim,

Ah! Falando em secar,

Eu vou colocar a água da berinjela na garrafa,

Amanhã vou tomar,

E começar a dieta,

Tô gordinha desde que o Junior nasceu,

O médico disse uma vez que pode ser “tiróide”,

Me sinto tão inchada,

Sem vontade pra fazer nada,

Pra mim,

Só pros meninos,

Tô sem tempo,

Pra mim.

A galera tá curtindo mais esses aqui...