Não me pergunte
A todo vapor,
Preciso ser rápido,
Estar lá e cá em questão de minutos,
Meu cronometro tem tempo próprio,
Não acompanha o relógio,
Dos outros,
Às vezes meu cérebro para de pensar tantas coisas,
E a memória falha,
Não sei por onde recomeçar,
Nem sei onde parei,
Ou mesmo se terminei,
Só paro quando encerro o serviço,
A adrenalina corre desde o primeiro gole de café,
Preciso ficar firme aqui,
Eu nem sei mais ser diferente pensar mais devagar,
Ou dormir antes das duas da madruga,
Não consigo nem acompanhar um raciocínio,
Parece que estão falando grego,
Tem que ser tudo preto no branco,
Quando a pessoa fala “A”
Eu entendo o que quero,
Ou viajo longe no “B, C, D, E”,
Que isso MANO?
Esse corre tá cada vez mais doido,
O povo tá tudo louco!
Todo mundo no sufoco,
O preço sobe,
O salário continua,
A gente não se arruma,
Cada fita no dia-a-dia,
Se ficar muito pilhado vai parar no Hospital,
Tomar Gardenal,
Aí fica grog e nada anda,
Não adianta,
É melhor andar,
Pra lá e pra cá,
Pra adrenalina passar,
Mas tem coisa que a gente faz parado,
Sentado,
E a vontade de andar toma conta,
E não dá pra levantar,
Tem que se controlar,
Aí dá um calor,
Uma batedeira,
Eita ...
Só levanto tomo uma água,
Bem gelada,
E outra,
Depois outra,
E depois outra,
E se não resolve,
Eu dou uma parada,
Abaixo a cabeça na mesa,
Penso numas coisas leves,
Pra vê se desacelera,
E dá certo,
Já tô ficando esperto nisso,
E ainda tem gente que fica indo em médico,
Todo mês,
Ficar falando o que aconteceu na infância,
Oxi,
Eu não lembro nem o que falei a um minuto,
Se me desdizerem eu acredito,
Nem desminto,
Eu vô sentar lá,
A mulher vai começar a fazer pergunta,
Eu já vou me irritar,
Por não lembrar,
Dessas paradas,
E quando lembrar ficar achando que fui muito errado,
Eu nem sei se tô aqui,
Sabe ...
Dentro da minha cabeça,
Eu queria só viver os momentos,
É só nisso que consigo focar,
Não dá pra falar que é uma continuidade,
Uma coisa que acontece aqui,
Não acontece ali,
Ou amanhã,
Uma hora gente ri,
Outra hora a gente faz rir,
É mais ou menos assim,
A neurose que dá é ver a família brigar,
E não conseguir se acertar,
Não sei o que acontece,
Isso me entristece,
De um jeito,
Que só eu sei,
Se nóis não tá junto,
É o mesmo que nada,
Tem que estar tudo alinhado,
Sem um mudar o assunto,
Quando o outro chega,
Perto.
Eu consigo viver assim,
Correria,
Som alto me faz concentrar,
Comer rápido,
A roupa é o de sempre,
Meu estilo,
Nem finjo,
Ou me esforço pra que me elogiem,
Não faço questão,
É isso que tem pra hoje!
Família é família,
Nunca tive sensibilidade,
Nem quero ter,
Pra quê,
Ficar na brisa de falar coisa que depois vou ficar mal,
O que eu junto não espalho,
Ah vai pra casa do ca...


