Ainda dói...AQUI!
Eu sinto dor,
Eu sinto medo,
Eu sinto tristeza,
Assim como eu sinto Amor,
Alegria,
Paz,
Felicidade,
E quando acesso lembranças do passado,
As lágrimas correm.
Eu era só uma jovenzinha,
Quinze anos pra ser precisa,
Uma mocinha,
Vaidosa,
E linda,
Que amava arte,
Teatro,
Dança,
Basquete,
A escola,
Trabalhar,
E frequentar a Igreja,
Além de com minha família estar,
Apesar dos pesares,
Lá era meu lar,
Meu quentinho e amoroso lar,
Onde a maioria das crianças queriam estar,
Brincar,
Criar,
Lá tinha um pé de amora,
Onde brincávamos,
O dia todo se deixar.
A macha começou no braço DIREITO,
E eu tinha muito medo,
De ser julgada,
Escondia,
Para ninguém ver,
Ou saber,
No PS de Caieiras o clínico disse que era micose.
Foi no convenio do trabalho,
Que descobri o que era,
Esclerodermia localizada ou MORfeia,
Mas eu nunca tinha ouvido falar,
O dermato 1 disse que era morfeia,
Tratou só com pomada,
Mas fui para o HC,
E logo ao ver,
Os médicos quiseram tratar,
Estudantes são assim, curiosos,
Começaram a analisar,
Fotografar,
Fazer exames,
Sem parar,
Eu tomava remédios dia e noite,
AUTOIMUNE,
Eu nem sabia o que era isso,
Só queria sarar,
Mas comecei a ficar inchada,
Cansada,
Mas sempre com fé.
Problemas de família me mantinham de pé.
Fiz o tratamento,
A muito custo,
Faltei a consultas,
Por causa do trabalho,
Mas para curar não existem atalhos,
Ou você aceita o tratamento proposto,
Ou vai continuar doente,
Os intervalos davam mais força para a doença,
E eu me mantinha na crença.
Tomava cada comprimido pensando,
“Eu quero a CURA com AMOR!”
E aos poucos fui reduzindo os comprimidos,
Miligramas,
Quantidades,
Basicamente,
Tratei uns dez anos,
Até que em uma das consultas fizeram outra biopsia,
E diagnosticaram o líquen escleroso e atrófico,
Que desenvolveu em decorrência do tratamento da Esclero,
Eu usei as pomadas e tomei os comprimidos por mais dois
anos,
E parei...
Anos depois,
Ainda com um pedacinho de líquen AQUI na mão,
A minha pele voltou a reagir,
Eu conseguia esticar o braço,
Sem medo,
E sem meus pais Aqui para que pudessem comemorar comigo,
A cura desse mal,
Que acometeu meu sistema imunológico,
Eles tanto batalharam para que eu conseguisse,
As mãos da minha mãezinha acariciaram por muitas vezes o meu
braço.
E eu não posso esquecer de tantas vezes que meu pai foi
comigo na consulta,
Esperava do lado de fora,
Pra não me constranger quando eu tirava a roupa,
Ainda tem uma sombra aqui,
Do lado direito,
Pra me fazer lembrar do quanto isso me machucou,
A dor da alma foi muito maior do que na pele.
Mas consegui,
Acreditei nos médicos,
Em cada palavra,
Cada diagnóstico,
Avaliação,
E nos fármacos,
E sarei,
Ao olhar para isso eu digo,
A mim mesma,
Eu transformei um "buraco negro" em uma nebulosa constelação,
CARINA!
Que esconde lembranças duras,
Mas que hoje me orgulho ao olhar,
De mim mesma,
Que lutei,
Dia após dia,
E se falarem com respeito,
Eu digo o que é,
O Amor muda tudo,
Ser um RATO de laboratório é o que faz do ser humano
coisificado,
Não que rato seja coisa,
Muito pelo contrário,
Mas ao colocá-lo em um labirinto para ser estudado,
É a mais pura maldade que se pode fazer com qualquer COISA.
Sempre existem outras alternativas,
Eu não falo disso a ninguém,
Em especial aqueles que olham com desdém,
Ou superioridade,
Que me julgam pela minha idade,
Não sabem o que já passei,
Toda semana as quatro eu pegava o trem,
E esperava na fila do PAMB,
O prédio amarelo pra quem conhece,
Eu andava por lá,
Quando tinha que muito esperar,
Para conhecer e não me perder,
Me tornei parte daquele lugar,
E ele de mim,
Pois me curou,
De verdade,
Mas tudo isso ainda dói,
Aqui.



