Resenha: Um olhar para dentro do texto e outro para o contexto
Por Carina Zduniak
BENTES.
A.C. Linguística textual. IN: Mussalim, F.; Bentes, A.C. (Orgs) Introdução à
linguística. Domínios e fronteiras. Volume 1. 7ª edição. São Paulo: Cortez,
2007.
O texto Linguística
Textual de Ana Christina Bentes, foi apresentado como mecanismo de introdução
do assunto no curso de Letras, o que podemos considerar uma cartada de mestre
do professor da disciplina, em vista de que, para o desenvolvimento do conteúdo
acadêmico vigente, exige-se um mínimo conhecimento prévio do assunto pelo
aluno, de tal modo que este alcançar os objetivos do curso e a conclusão de
licenciatura após cumprir a grade obrigatória, no período determinado. Além de
que, a técnica estimula os alunos a lerem textos teóricos, mesmo sem um amplo
conhecimento sobre o assunto.
Nas primeiras palavras da autora, esta faz uma
abordagem histórica, que explica que a linguística de texto se opõe à
linguística estrutural de Fernando Saussure, ao mesmo tempo dando continuidade
aos estudos linguísticos do texto. A
Teoria saussuriana consistiu em promover a análise transfrástica (limitado ao
nível da fase); eufórica (construção gramatical textual), além de que o texto
não é um produto acabado mas sim um processo, o qual se obtém o resultado das
operações comunicativas e de processos linguísticos em situações
sóciocomunicativas.
Na análise transfrástica
o estudo se inicia na frase do texto isoladamente, preocupando-se apenas com as
relações estabelecidas entre as frases e
os períodos. as teorias que que se originaram daqui não abrangiam
fenômenos que foram percebidos pelos estudiosos da época, tais como, o fenômeno
da co-referenciação e fenômeno do múltiplo referenciamento, que mais adiante deu origem ao fenômeno da
coesão referencial, que observará os conectores de toda a estrutura textual,
sendo possível que consideremos este como um dos principais aspectos de
construção Da linguística textual, além, é claro, da análise sócio linguística
em convergência com resultado da escrita pelo locutor falante.
Até aqui, autora nos
permite conhecer os primeiros movimentos que ensejaram a construção e estudos
originárias da linguística textual, como também enfatiza que não é possível que
tenhamos uma explicação concreta para descoberta desses fenômenos, mas é
possível identificar alguns momentos de crítica e consequente aprimoramento dos
estudos voltados para o texto.
Para Marcuschi (1998 apud
Bentes 2007) houve tentativa objetivando construir o texto como objeto da
linguística nas primeiras propostas de elaboração das gramáticas textuais,
entretanto, apesar das constantes evoluções do objeto de estudo, ainda defendia
firmemente que o texto possuía propriedades referentes ao sistema abstrato da
língua, sendo este unidade teórica formalmente construída, em oposição ao
discurso, unidade funcional, comunicativa e intersubjetivamente construída.
Entre estudos e
discussões entres principais os autores envolvidos neste período concordavam
que não havia continuidade entre frase e texto, haja vista que há uma diferença
de ordem qualitativa e não quantitativa, pois para Lang (1972 apud BENTES 2007,
p. 263) “ a significação de texto (...) constitui um todo que é diferente da
soma das partes”, sendo o texto a unidade linguística mais elevada, segundo
Bentes (2007) os autores consideraram
que por meio do texto seria possível alcançar estudos de segmentações de
unidades menores a serem classificadas.
Outro aspecto, já citado
e preponderantemente relevante, foi que os autores consideraram a importância
da análise sóciolinguística do falante nativo em detrimento ao seu conhecimento
acerca do que é texto o qual não se pode ser reduzido à análise frasal, levando
em conta que o falante não domina apenas as regras subjacentes mas também
consegue identificar se determinado conjunto de enunciados constituem um texto
ou são sentenças em quaisquer conexão.
Neste sentido, Charolles ( 1989 apud BENTES
2007, p. 264):
Todo falante possuiria,
(...), três capacidades textuais básicas
a saber:
a) capacidade formativa, que eles permite
produzir e compreender o número potencial elevado imitado de textos inéditos e
que também lhe possibilita a avaliação, com convergência, da boa ou má formação
de um texto dado;
b) Capacidade transformativa, que o torna capaz
de reformular, parafrasear e resumir um texto dado, bem como avaliar, com
convergência, adequação do produto dessas atividades em relação ao texto a
partir do qual atividade foi executada;
c) capacidade qualificativo, que lhe confere a
possibilidade de tipificar, com convergência, em um texto dado, Isto é dizer se
ele é uma descrição, narração,
argumentação e, e também a possibilidade de produzir um texto de um tipo
particular.
O texto também afirma
que, segundo Fávero e Koch (1983 apud BENTES 2007, p. 264):
(...) Se todos os
usuários da língua possuem essas habilidades, que podem ser nomeadas
genericamente como competência textual poderia justificar-se, então, a
elaboração de uma gramática textual que deveria ter basicamente as seguintes
tarefas:
a) verificação do que faz com que faz com que um texto seja um texto Ou seja
a busca da determinação de seus princípios de Constituição dos fatores
responsáveis por sua coerência, das condições em que se manifesta textualidade;
b) levantamento de critérios para a delimitação
de textos já que a completude é uma das características essenciais do texto;
c) diferenciação de várias espécies de texto;
Superadas as explicações
do resultado dos estudos que levaram a construção da linguística textual, os
quais nos enriqueceram com a análise de fenômenos linguísticos como coerência e
coesão textual, a autora traz o conceito de texto, que para Koch (1997, p.21
apud BENTES 2007, p. 267) varia de “ Unidade linguística (do sistema) superior
a frase até complexo de proposições semânticas”. Já para Stammerjohann (1975 p.
18 apud BENTES 2007, p. 267):
O termo texto abrange
tanto textos orais, como textos escritos que tenham como extensão mínima 2
signos linguísticos, 12 quais, porém, pode ser suprido pela situação, no caso
de textos de uma só palavra, como “Socorro”,
sendo sua extensão máxima indeterminada.
Em suas palavras, altura
levanta o caráter material ou formal do texto considerado pelos autores acima
já em consideração do texto como o “complexo de proposições semânticas",
menciona o conceito trazido por Weinrich (1971 apud BENTES 2007) que relaciona
Aspectos que definem um texto como sequência coerente consistente de signos
linguísticos, delimitação por interrupções significativas na comunicação e o
status do texto como maior identidade linguística.
É importante relembrar
que a publicação de dentes apresenta o texto como sendo atividade global de
comunicação e a partir da Perspectiva da sociolinguística estudada por Djik
(1972 apud BENTES 2007), apontam que os falantes praticam atos de fala quando produzem
um texto, como também que a produção textual é uma atividade intencional e
consciente.
Apresentados os conceitos de textos,
sequencialmente a autora, no título destinado aos sentidos do texto, apresenta
a coerência textual a qual se configura pelo sentido e relação entre as frases,
orações e sentenças construídas de tal modo que a mensagem apresentada pelo
interlocutor seja compreendida semanticamente pelos signos utilizados, sem que
este se vale do solidarismo textual.
E então, nos deparamos
com o julgamento feito pelo leitor em relação à coerência ou incoerência do
texto, pela presença ou ausência do sentido Global, além de que os leitores
podem concluir que nem todos os textos são aceitáveis ou mesmo julgar uma
produção textual apenas em relação aos esquemas textuais estrutura antes desta,
como também podem jogar e incoerente ou coerente trechos do texto. Os
julgamentos atribuídos podem ser unânimes, além de colaborativo ou não
considerar em fatores que poderiam colaborar para a construção de sentido.
Outra linha para os
auxiliar na compreensão dos Sentidos de um texto, dentro do que se sabe sobre
coerência, autor explica institutos como a importância do uso e remissão dos
verbos de interlocução conhecimento de mundo do leitor frente ao texto, interferências
externas, estratégias cognitivas, intertextualidade de semelhança,
intertextualidade implícita e explícita, ampliando para o uso da citação,
análise de conteúdo pelo leitor / destinatário, argumentatividade,
intencionalidade e informatividade pelo autor.
Autora nos elucida que o
grau de informatividade do exemplo 18, apresentado no texto, é médio, em
decorrência de os candidatos relacionados já terem sido listados nas eleições
anteriores, além de que a informação tematizada se refere ao possível candidato
vencedor na eleição presidencial de 1998 no Brasil, que segue :
Ainda sobre o exemplo 18,
Bentes explica que para que o leitor alcance significação e justificativa da
afirmação "Quem ganha mais" é necessário que avance ao momento
seguinte, no enunciado onde consta como se deu o arranjo da informação, os quais
são assim atingidas após o "mas", sendo "A mais B",
ilustrando que o candidato Ciro Gomes possivelmente ganharia, contudo , apenas
com o conjunto de eleitores que votaram no FHC e não a totalidade de eleitores.
Cumulando com a informatividade intencionalidade do autor do enunciado trazido
no exemplo 18, também podemos identificar, conforme a observação de Bentes, que
o locutor utiliza o advérbio "pouco" objetivo visando minimizar as
evidências numéricas das pesquisas que apontavam o candidato Lula como sendo o
possível ganhador em relação à totalidade de eleitores, senão vejamos na frase
"Fica pouco atrás do petista Lula".
Mais adiante, a autora
aborda sobre a intertextualidade explícita quando há citação, onde se percebe
um distanciamento daquilo que se é dito e uma certa concordância sem se
responsabilizar pela informação, causada pelo locutor, ao mesmo tempo demonstra
objetividade e neutralidade ao receptor.
Outro aspecto trazido no
texto é a Coesão Textual, estudado a partir da análise do texto:
Bentes explica que, no caso em tela, o locutor se vale da estratégia de suspense ao utilizar coesão referencial por meio da catáfora e anáfora presentes no texto, nesta ordem . Catáfora ao referenciar os sujeitos do texto utilizando inicialmente os pronomes "eles" e “deles”, no fenômeno de pronominalização, sendo que a resposta para o suspense vem apenas no terceiro parágrafo. E a anáfora quando utiliza "o presidente e seus orientadores econômicos", "uma equipe econômica”, dentre outros fazendo referências para trás, ou seja, sujeitos já mencionados. Para a autora ficou muito interessante o suspense na construção dos referentes textuais pelo mecanismo sintático de apassivação e pela repetição do sintagma o qual permite que a crítica fixe na mente do leitor.
O texto cita Koch (1997 apud BENTES 2007) para explicar que as regras para emprego dos artigos como
formas remissivas é aquela que um
referente, ao ser introduzido por um artigo Indefinido, somente pode ser
retomado por um artigo definido.
A conclusão frisa que a autora almejou apresentar teoricamente a linguística textual no Brasil, para permitir análise sistêmica de produções textuais sóciocognitivamente contextualizadas e a revisão histórica da construção deste campo. Como um brinde e convite ao leitor, informa que em 1997, Teun A. Van Djik publicou dois volumes que indicam os interesses anglo-saxões sobre texto e discurso que variam desde uma abordagem elitista, retórica e linguística a direções psicológicas e especialmente mais sociológicas da pesquisa.
Este texto foi fruto da atividade aplicada na disciplina de Linguística Textual no curso de Letras- Português e Espanhol da Universidade Federal da Fronteira Sul, ministrada pelo Professor Eric Duarte Ferreira, o qual solicitou que desenvolvêssemos uma resenha sobre o texto Introdução à linguística.





