Resenha: Quem viver verá, será?
Carina Zduniak
KOCH, I. G. V.
Contribuições da Linguística textual para o ensino de língua portuguesa na
escola média: a análise de textos. Revista do GELNE, v. 1, n. 1, p.
16-20, 17 fev. 2016.
Uma das mais completas
linguistas, moderna e brasileira, Ingedore Grünfeld Villaça Koch, pouco antes
de falecer, presenteia a comunidade acadêmica e estudiosos da Língua Portuguesa
com uma reflexão enriquecedora sobre as contribuições da Linguística Textual na
análise de textos do processo de letramento da escola média. Apesar de
transcorridos quatro anos de sua manifestação pública a respeito da temática e
poucas efetivas e palpáveis mudanças nas políticas educacionais, a autora de
grande prestígio nos deixou um enorme elefante branco, em termos ideológicos do
que se espera na construção do ensino na educação básica. Texto este, que deve
ser tomado como referencial de conhecimento e preparo das diretrizes
curriculares do ensino médio, de tal modo que, qualquer impedimento do alcance
dos resultados almejados in loco e na
prática socioeducacional, deve ser levantado como motivação de aprimoramento
dos recursos de ensino e letramento, considerando que foram apresentados,
suscintamente tópicos básicos e basilares de análise textual.
Já pautada pelos atuais
conceitos de Linguística Textual, Koch inicia sua reflexão enaltecendo o papel
da inter-ação entre sujeitos textuais em uma atividade sociocomunicativa do
texto, considerando a participação dos agentes, leito e ouvinte na construção
de sentido do discurso por meio da mobilização do contexto. Que vai se atentar
não somente ao co-texto, ou seja, na interação imediata, mas também o entorno
sócio-político-cultural e também o contexto cognitivo dos interlocutores,
evidenciando a importância da amplitude de alcance de outras áreas da
linguística na análise e estudo do texto, o qual vai reunir todos os conhecimentos
obtidos por estes, sejam episódicos, os frames e scripts, o conhecimento da
situação comunicativa e seus regramentos, o conhecimento superestrutural, quais
sejam gêneros ou tipos textuais, conhecimento estilístico, pautado nos
registros, variedades de língua e de sua adequação às situações comunicativas e
também de intertextualidade cultural.
Para trazer mais solidez
a seus argumentos, no mesmo sentido de sua asseveração sobre a análise do
contexto dos interlocutores, Koch cita Sperber & Wilson (1986), Dascal e
Weiszman (1987), Grice (1975) e Gumperz (1982, 1992). Ainda relacionado ao
conhecimento de mundo do agente de fala e do ouvinte, aduz que é necessário
equilíbrio na elaboração textual de elementos explícitos e implícitos, haja vista
que ao inserir informações metafóricas ou implícitas quem fala/escreve deve se
atentar a possibilidade de inferência no alcance do sentido global do fora
escrito/dito ((NYSTRAND & WIEMELT, 1991 apud KOCH, 2016). Assim como a
explicitude deve ser reciproca para ambos, a depender dos fatores contextuais
utilizados ((NYSTRAND & WIEMELT, 1991 apud KOCH, 2016).
Desta feita, Koch
colaciona elementos de estratégias textuais- interativas para a organização do
texto, tais como a escrita coesiva, que apesar de não ser necessária na
construção de sentido, as coesões remissiva e sequencial, auxiliam o
leitor/interpretador na construção da coerência (KOCH 1989 apud KOCH 2016), a
qual exemplifica pelo uso da retomada de referentes no texto e pelo uso da
dêixis. Sequencialmente elenca a Estratégia de organização da informação e
estruturação textual, Estratégia da formulação textual, Recurso a
intertextualidade, Marcação de tópico discursivo e Estratégias discursivas.
Ainda que, através destes
breves comentários, é possível que façamos uma ressonância magnética naquilo
que se obtém do volume de jovens que se formam no ensino médio em detrimento ao
que se propõe pela Koch a respeito da busca do sentido global de texto
alcançada ou não pelos interlocutores, explicitação do que se escreve e as
estratégias de escrita, viabilizando a fluidez no canal de comunicação. E o
resultado do exame é uma disparidade entre desejos e realidade, sendo que mesmo
através de uma radiografia já teríamos alcançado resultados suficientes para tanto.
Fato é que, escritores
comprometidos com o que se escreve, leitores com amplo conhecimento de outros
contextos, na realidade atual e das últimas décadas são raros, e apesar dos
grandes esforços das políticas educacionais, outros fatores de grande impacto
como o que se estuda na sociolinguística, na neurolinguística e na
psicolinguística, além de questões culturais, políticas, econômicas e
geográficas atrasam os anseios daqueles que norteiam as regras e diretrizes
modeladoras da sociedade, sendo necessários longos anos ou altíssimos
investimentos de capital por meio das políticas públicas para que possamos
através de índices demográficos e alterações nas estruturas sociais mensurar a
longevidade do impacto da aplicação em longa escala e seus efeitos na
sociedade, destacando que o papel da escola no contexto social a que se está
inserida.
Este texto foi fruto da atividade aplicada na disciplina de Linguística Textual no curso de Letras- Português e Espanhol da Universidade Federal da Fronteira Sul, ministrada pelo Professor Eric Duarte Ferreira, o qual solicitou que desenvolvêssemos uma resenha sobre o texto Contribuições da Linguística textual para o ensino de língua portuguesa na escola média: a análise de textos.



