Resenha: Quem viver verá, será?

 

Fonte da imagem: https://filosofonet.wordpress.com/2009/07/19/afinal-qual-e-o-problema-da-educacao/


 Carina Zduniak

KOCH, I. G. V. Contribuições da Linguística textual para o ensino de língua portuguesa na escola média: a análise de textos. Revista do GELNE, v. 1, n. 1, p. 16-20, 17 fev. 2016.

 

Uma das mais completas linguistas, moderna e brasileira, Ingedore Grünfeld Villaça Koch, pouco antes de falecer, presenteia a comunidade acadêmica e estudiosos da Língua Portuguesa com uma reflexão enriquecedora sobre as contribuições da Linguística Textual na análise de textos do processo de letramento da escola média. Apesar de transcorridos quatro anos de sua manifestação pública a respeito da temática e poucas efetivas e palpáveis mudanças nas políticas educacionais, a autora de grande prestígio nos deixou um enorme elefante branco, em termos ideológicos do que se espera na construção do ensino na educação básica. Texto este, que deve ser tomado como referencial de conhecimento e preparo das diretrizes curriculares do ensino médio, de tal modo que, qualquer impedimento do alcance dos resultados almejados in loco e na prática socioeducacional, deve ser levantado como motivação de aprimoramento dos recursos de ensino e letramento, considerando que foram apresentados, suscintamente tópicos básicos e basilares de análise textual.

 

Já pautada pelos atuais conceitos de Linguística Textual, Koch inicia sua reflexão enaltecendo o papel da inter-ação entre sujeitos textuais em uma atividade sociocomunicativa do texto, considerando a participação dos agentes, leito e ouvinte na construção de sentido do discurso por meio da mobilização do contexto. Que vai se atentar não somente ao co-texto, ou seja, na interação imediata, mas também o entorno sócio-político-cultural e também o contexto cognitivo dos interlocutores, evidenciando a importância da amplitude de alcance de outras áreas da linguística na análise e estudo do texto, o qual vai reunir todos os conhecimentos obtidos por estes, sejam episódicos, os frames e scripts, o conhecimento da situação comunicativa e seus regramentos, o conhecimento superestrutural, quais sejam gêneros ou tipos textuais, conhecimento estilístico, pautado nos registros, variedades de língua e de sua adequação às situações comunicativas e também de intertextualidade cultural.

 

Para trazer mais solidez a seus argumentos, no mesmo sentido de sua asseveração sobre a análise do contexto dos interlocutores, Koch cita Sperber & Wilson (1986), Dascal e Weiszman (1987), Grice (1975) e Gumperz (1982, 1992). Ainda relacionado ao conhecimento de mundo do agente de fala e do ouvinte, aduz que é necessário equilíbrio na elaboração textual de elementos explícitos e implícitos, haja vista que ao inserir informações metafóricas ou implícitas quem fala/escreve deve se atentar a possibilidade de inferência no alcance do sentido global do fora escrito/dito ((NYSTRAND & WIEMELT, 1991 apud KOCH, 2016). Assim como a explicitude deve ser reciproca para ambos, a depender dos fatores contextuais utilizados ((NYSTRAND & WIEMELT, 1991 apud KOCH, 2016).

 

Desta feita, Koch colaciona elementos de estratégias textuais- interativas para a organização do texto, tais como a escrita coesiva, que apesar de não ser necessária na construção de sentido, as coesões remissiva e sequencial, auxiliam o leitor/interpretador na construção da coerência (KOCH 1989 apud KOCH 2016), a qual exemplifica pelo uso da retomada de referentes no texto e pelo uso da dêixis. Sequencialmente elenca a Estratégia de organização da informação e estruturação textual, Estratégia da formulação textual, Recurso a intertextualidade, Marcação de tópico discursivo e Estratégias discursivas.

 

Ainda que, através destes breves comentários, é possível que façamos uma ressonância magnética naquilo que se obtém do volume de jovens que se formam no ensino médio em detrimento ao que se propõe pela Koch a respeito da busca do sentido global de texto alcançada ou não pelos interlocutores, explicitação do que se escreve e as estratégias de escrita, viabilizando a fluidez no canal de comunicação. E o resultado do exame é uma disparidade entre desejos e realidade, sendo que mesmo através de uma radiografia já teríamos alcançado resultados suficientes para tanto.

 

Fato é que, escritores comprometidos com o que se escreve, leitores com amplo conhecimento de outros contextos, na realidade atual e das últimas décadas são raros, e apesar dos grandes esforços das políticas educacionais, outros fatores de grande impacto como o que se estuda na sociolinguística, na neurolinguística e na psicolinguística, além de questões culturais, políticas, econômicas e geográficas atrasam os anseios daqueles que norteiam as regras e diretrizes modeladoras da sociedade, sendo necessários longos anos ou altíssimos investimentos de capital por meio das políticas públicas para que possamos através de índices demográficos e alterações nas estruturas sociais mensurar a longevidade do impacto da aplicação em longa escala e seus efeitos na sociedade, destacando que o papel da escola no contexto social a que se está inserida.


Este texto foi fruto da atividade aplicada na disciplina de Linguística Textual no curso de Letras- Português e Espanhol da Universidade Federal da Fronteira Sul, ministrada pelo Professor Eric Duarte Ferreira, o qual solicitou que desenvolvêssemos uma resenha sobre o texto Contribuições da Linguística textual para o ensino de língua portuguesa na escola média: a análise de textos.

A galera tá curtindo mais esses aqui...