RESUMO DO CAPÍTULO: Kant e o respeito pelas pessoas.

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RESUMO: RACHELS, James & RACHELS, Stuart. Os elementos da filosofia moral. Capítulo 10 - Kant e o respeito pelas pessoasTrad. portuguesa e revisão técnica: Delamar J. V. Dutra. 7.ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

 

O primeiro texto do Capítulo 10 do Livro, As ideias centrais de Kant, nos elucidará sobre o pensamento kantiano, estreitando a abordagem, apresentará sinteticamente que o homem ocupa posição de destaque na cadeia animal, além de que, todos os demais existem para servi-lo, senão vejamos no trecho extraído pelo autor das Lições sobre ética escritas por Kant (1779, apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 146) que diz: “No que diz respeito aos animais, nós não temos deveres diretos. Animais [...] estão aí somente como meios para um fim. Este fim é o homem”. Nessa ótica, Immanuel Kant acredita que os seres humanos podem usar os animais conforme bem entender, para o seu bel prazer e necessidades, acreditando inclusive que não qualquer “dever direto em não tortura-los” (RACHELS e RACHELS, 2013, p. 146), contudo, defende que “Aquele que é cruel para com os animais, também se torna insensível no seu trato com os homens” (KANT, 1779, apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 146).

Conforme Rachels e Rachels, ao defender a posição em destaque do ser humano, Kant (1.779) estava lhe atribuindo uma certa “dignidade” em relação aos demais seres, objetos e coisas existentes, exemplifica utilizando a morte de uma criança como seno uma tragédia, ainda que nasça outra no seio familiar o qual esta integrava.

 Os autores apresentam dois fatos que Kant se apoia para explicar tal pensamento, sendo o primeiro que os desejos e valores são oriundos da vontade humana e que “meras coisas” apenas terão valor se este tiver como finalidade as necessidades humanas. Ademais, para o filósofo os animais são primitivos demais para terem desejos e autoconsciência, logo, são “meras coisas”. Já a segunda razão kantiana se pauta na dignidade do ser humano, isso porque são agentes racionais, deste modo “O único modo pelo qual a bondade moral pode existir é para criaturas racionais agirem por uma vontade boa – isto é, apreender o que elas devem fazer e agir por um senso do dever.” (KANT, 1.779, apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 147), o qual se assegura na racionalidade e consciência humana para defender a sua dignidade frente a todas as demais coisas que existem.

Pelo acima exposto, Kant (1.779, apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 147) acreditava que “os seres humanos não são meramente uma coisa valorosa entre outras. Os humanos são os únicos que realizam a valoração, sendo as suas ações conscientes que têm valor moral.”, pensamentos estes que ensejarão a lógica da moral kantiana e fundará o princípio imperativo categórico, qual seja “Age de tal maneira que tomes a humanidade, tanto em tua pessoa quanto na pessoa de qualquer outro, sempre ao mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio.” (1.779, apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 147).

Assim sendo, o valor do ser humano é tão grandioso que, além de o permitir se colocar no topo da estrutura valorativa das coisas, também determina que nunca será meio, mas sim, destino e fim de todas as coisas que existem, em resumo, o ser humano não pode ser usado para que outros obtenham para que outros alcancem seus objetivos, logo, obtemos o pensamento sobre a moral de Kant. Segundos os autores (2013, p. 148), Kant (1.779) defende que “Tratar as pessoas como fins e respeitar as suas capacidades racionais têm outras implicações.”

Mais adiante, o capítulo abordará sobre a Retribuição e a Utilidade na Teoria da Punição, sendo que para justificar suas convicções os autores se pautam no pensamento de Jeremy Bentham (1748-1832, apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 149) ) disse que “toda punição é um dano: toda punição é em si mesma um mal”, bem como nas raízes dos registros históricos do Direito Penal, escrito por Talião, qual seja, “Olho por olho e dente por dente”, além da Crítica da razão prática (1788, apud apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 149) que segue:

 Mas, se com alguém que gosta de provocar e perturbar pessoas amantes da paz as coisas acabam indo mal e ele é despedido com uma boa dose de golpes, então isto certamente é um mal, mas qualquer um o aprova e o considera em si bom, mesmo que nada decorresse ulteriormente dele.

A ideia central do texto, se funda na satisfação da vítima frente a punição do ofensor do ato criminoso, alegam que juízes, defensores e membros do ministério público se baseiam na vontade da vítima e não satisfação dos aseios e desenvolvimento da sociedade. No mais, os autores afirmam que no utilitarismo “ (…) a punição somente pode ser justificada se ela promove bem suficiente para sobrelevar o mal. Tradicionalmente, o utilitarismo pensou que a punição faz isso. Se alguém desrespeita a lei, então punir tal pessoa pode ter vários benefícios.” (2013, p. 150), seja pela satisfação da vítima, retirada do criminoso do convívio social, caráter socioeducativo da pena em relação a conduta criminosa praticada pelo agente executor ou mesmo a possibilidade de reabilitação do indivíduo encarcerado.

Ocorre que, antes de finalizar o texto, Rachels e Rachels apresentam como exemplo a tentativa estadunidense de reabilitar os presos a partir de 1954, ocorre que a partir da década de 70 com o crescente número de prisões em decorrência do tráfico de drogas, que ensejou nas superlotações dos sistemas prisionais do mundo todo, a situação se precarizou as condições, onde a mentalidade de reabilitação fora substituída pela mentalidade de depósito, tornando o convívio no cárcere cada vez pior, até os dias atuais, sugerindo uma vitória do retributivismo.

No texto O Retributivismo de Kant, os autores demonstram em um pensamento evolutivo que a teoria do utilitarismo tem muitos oponentes, dentre eles as críticas feitas a reabilitação prisional. Kant também desprezava “os meandros do utilitarismo”, por afirma que este é incompatível com a dignidade humana, vinculando ao pensamento de que a prisão de alguns seres humanos para manter a sociedade segura, é se valer do ser humano com meio para alcançar a segurança de outros, violando suas teorias basilares da moral kantiana. Como também, reabilitar é a tentativa de moldar as pessoas segundo os ideais de outras, usando-as para serem aquilo que estas segundas almejam. Logo, Kant se posiciona contrário ao utilitarismo, senão vejamos na asseveração que segue:

qualquer mal imerecido que causas a um outro no povo causa-lo a ti próprio; se o injurias é a ti próprio que injurias; se o roubas é a ti próprio que roubas; se o agrides é a ti próprio que agrides; se o matas é a ti próprio que matas. Só a lei de retribuição (ius talionis), mas, bem entendido, na condição de se efetuar perante a barra do tribunal (não no teu juízo privado), pode indicar de maneira precisa a qualidade e a quantidade da pena; todos os demais oscilam aqui e acolá e, porque se imiscuem outras considerações, não têm adequação ao veredicto da justiça pura e rigorosa.(KANT 1797, P. 332 apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 152).

Como pudemos observar, Kant se posiciona favorável ao entendimento vigente dos tribunais brasileiros que asseguram a adequação da punição ao crime, às condições psíquicas do agente, a não reciprocidade do mau cometido pelo agente infrator, os autores buscaram referência inclusive na Bíblia “Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra”. (Bíblia Sagrada 1981, MT 5: 38-39. apud RACHELS e RACHELS, 2013, p. 153).

Para finalizar, Rachels e Rachels (2013, p.154), deixam as seguintes indagações que nos permitem refletir mais profundamente a respeito da discussão iniciada pelo capítulo 10 do livro, sendo estas:

 . Por que devemos adotar o princípio de ação do criminoso, em vez de seguir nossos próprios princípios? Deveríamos nós tentar ser “melhores do que eles”? No final das contas, o que pensamos da teoria kantiana pode depender de nosso ponto de vista sobre o comportamento criminoso. Se virmos os criminosos como vítimas das circunstâncias que, em última análise, não controlam as suas próprias ações, então o modelo utilitarista será atrativo para nós.”


        Aceito o convite, permaneceremos estendendo as reflexões e aplicabilidade da moral e teorias de Kant na sociedade, livre quaisquer interesses que sobrevenham a verdade manifesta.


Este texto foi fruto da atividade aplicada na disciplina de Introdução à Filosofia no curso de Letras- Português e Espanhol da Universidade Federal da Fronteira Sul, ministrada pelo Professor Nedilso Lauro Brugnera, o qual solicitou que desenvolvêssemos um resumo de um capítulo de escolha do aluno extraído do livro Os elementos da filosofia moral escrito por James Rachels e Stuart Rachels.

A galera tá curtindo mais esses aqui...