PEÇA TEATRAL: Nem só de AUTOR viverá a LEITURA!
As leituras e estudos me permitiram viajar no tempo, onde eu e minhas irmãs repletas de sensibilidade, transformávamos situações e fenômenos não aparentes em peças de teatro.
TEXTOS REFERÊNCIAIS:
• Conversa com duas estranhas, de Ricardo Domeneck
• "Literatura não é transmissão de conteúdo" - entrevista com João Cezar de Castro Rocha
• Arte como procedimento, de Victor Chklovski
• Aula (trecho), de Roland Barthes
• "Ciúme e dúvida póstuma" - João Cezar de Castro Rocha
• Gêneros - Daniel Link
• Pierre Menard, autor de Quixote - Jorge Luis Borges
• A morte do autor - Roland Barthes
• Desocupado lector - João Cezar de Castro Rocha
• O direito à leitura literária - João Cezar de Castro Rocha
• Escrever a leitura - Roland Barthes
• Como se lê - Daniel Link
PERSONAGENS: Pai (AUTOR), Mãe (Leitora), Filha (Leitura), Mãe do Autor (Teórico Pró Autor), Mãe da Leitora (Teórico Pró Leitura Aberta), Vizinhos na Janela (jornalistas, escritores, outros leitores, legisladores, professores e público geral).
PRÓLOGO: A cena acontece no ano de 2021, no ambiente doméstico, na sala de estar, onde as personagens discutem calorosamente sobre qual dos pais vai ficar com a guarda provisória da Filha, eis que aparecem as sogras e dão mais ênfase ao conflito. As janelas estão abertas de modo que os familiares vizinhos ficam amontoados assistindo o desenrolar e desfecho da discussão.
PAI: Sou eu quem te sustentei financeiramente até hoje, te levo para a escola, te dei insumos para que tenha vida...
MÃE: (interrompendo bruscamente) Alto lá! Deu insumos? Mas quem deu à luz aquele monte de palavras agrupadas fui eu! Gerei inúmeros pensamentos para que pudesse brincar, contextualizei, te levei no meu trabalho da faculdade, te mantenho junto dos meus pensamentos mais bonitos.
MÃE DO AUTOR: Ah, mas essa “zinha” que apareceu só agora cheia de facetas não sabe quantas noites meu filho ficou acordado para agrupar essas palavras, como você diz. Não sabe como foi difícil escolher as melhores palavras, estudar muito, viver até aqui, equilibrar o mental para concluir, se não fosse você, seria outra, meu filho é um deus!
MÃE DA LEITORA: Saibam vocês que minha filha é que é uma deusa, livre, com asas enormes, atual, muito à frente do retrógrado de seu filho AUTOR, que se prende a forma para se expressar, não sei como ela foi perder tempo fazendo a LEITURA. Mas já que fez que dê a sua criação e a conduza por onde for, nem que seja necessário mandar matá-lo.
FILHA: Chega! Todos vocês! Olha a que ponto chegaram, eu só nasci e gerarei outras de mim com outras ou as mesmas formas porque minha Mãe se interessou pelo meu Pai ou pela bela forma de texto que ele se apresentou, o veículo mais veloz e atemporal, seja para colecionadores, admiradores ou para mim mesma. Já a Senhora Vovó, se for para que me dê as opções se devo matar meu Pai ou minha Mãe, eu prefiro cortar a sua língua e dar origem a minha nova opção! Papais NÃO SE SEPAREM! Eu sou fruto de ambos, tenho características um pouquinho de lá e um pouquinho de cá, e ignorar a isso é o mesmo que amputar partes da minha existência. EU FICO COM OS DOIS! SE QUEREM SE SEPARAR TUDO BEM, MAS, FICO NO REGIME DE GUARDA COMPARTILHADA, E QUANDO TIVER IDADE SUFICIENTE PARA ALCANÇAR AUTÔNOMIA E FORÇA NESSE MUNDO DAS IDEIAS, AINDA SEREI VINCULADA AS PALAVRAS E TEMPO DE PAPAI E AOS PENSAMENTOS LIVRES E TEMPO DE MAMÃE! Eu pertenço a mim, tenho vida própria! (Abraça os pais, as sogras estarrecidas saem pelas laterais do palco e os vizinhos voltam a seus afazeres fechando suas janelas)
Esse breve texto foi elaborado para a atividade acadêmica de primeira fase no curso de Letras, da Universidade Federal da Fronteira Sul, onde o professor permitiu que escrevêssemos em 3000 carácteres com espaços livremente sobre os textos estudados.


