Comentário ao texto Poesia e Poema por Octavio Paz

 

Fonte da imagem: https://www.estudopratico.com.br/poema-e-poesia-qual-a-diferenca/

Por Carina Zduniak 

Assim como Luiz de Camões foi impecável no soneto O Amor é fogo que arde sem se ver, Octavio Paz foi minucioso ao falar em palavras tão profundas sobre a escrita e leitura da poesia em seu texto. São tantos adjetivos, sinônimos e antônimos que fazem um trabalho cirúrgico na análise do gênero. Um texto com uma pluralidade de sentidos para manifestar parte do que se pode entender por poesia, intrinsecamente.

O autor faz uma abordagem como se estivesse observando uma casa, pelo lado de dentro, preferencialmente, mas também pelo lado de fora. Os olhares apaixonados da alma o revela ali, em um misto de abordagem técnica e romântica, a poesia é delineada, mais precisamente pintada com pinceladas suaves e agressivas. Essas pinceladas remontam o universo onde o poeta instala sua morada ou mesmo traduz qual é o grau da lente usada por este para ver o mundo material e remontá-lo dentro das inúmeras possibilidades que os sentimentos podem se manifestar a respeito das coisas.

Nessa viagem para dentro, o poeta nem sempre é o condutor dos traçados, é possível e muito comum que deixe o poético se revelar, adotando personalidade real e imaterial através de sua escrita a algo que supera todas e quaisquer expectativas e sentidos do indivíduo-autor. Para Octavio, é no poema que a poesia se encontra com o homem, fazendo parecer com que a poesia tenha vida própria, em muitos trechos do texto, e de fato o é.

Paz, com maestria, nos mostra como a técnica utilizada para a escrita é subjetiva apenas ao autor, criador do poema, em seu tempo, pois a sobrevinda de nova técnica desfaz a relevância da anterior na escrita, mas um poema, uma vez escrito, viverá para sempre, fazendo elos com os corações dos leitores, seja qual forem o tempo e lugar.

 Nessa perspectiva, o poema não ocupa espaço, mas sim, abre espaço para novas e imensuráveis conexões sendo capaz de transcender, sobreviver e realizar feitos inimagináveis ao leitor todas as vezes que estiver em contato com a obra. O autor deixa evidenciado que não nega a importância dos gêneros, mas é na leitura e na conexão entre os envolvidos, quais sejam, autor, texto e leitor que os sentidos atribuídos outrora renascem em um inédito processo criacional.

Deste modo, podemos afirmar que uma vez escrito um poema é como um fermento na mente dos leitores, misturado a sentimentalidade, dará ensejo a novas experiências literárias para este e novas nuances a leitura, em uma metamorfose sem fim.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

 

1.    CAMÕES, Luiz Vaz de. Amor é fogo que arde sem se ver. Domínio Público. Acessado pelo sítio eletrônico: //www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf , em 18/10/2021.

2.    O Arco e a Lira” de Octavio Paz. Tradução de Olga Savary. Ed. Nova Fronteira, RJ, 1982, pp. 15-31 (Coleção Logos)

A galera tá curtindo mais esses aqui...