CONEXÕES
Linguagem, tempo, espaço, GENTE
Quantas vezes você não se pegou intrigado ao ler frases ou ilustrações em vias públicas, bancos dos ônibus, portas e paredes de banheiros de acesso público, carteiras nas escolas e universidades, postes, muros, camisetas ou mesmo na prática de escrever atrás de quadro nos quartos de hotéis, enfim, são incontáveis as vezes que somos chamados a nos conectar com outros universos através da linguagem espalhada pelos centros urbanos; formas de se expressar nem sempre com uma intenção além do simples ato de exteriorizar um pensamento, sentimento ou ideia que o autor teve naquele momento e que ao ler, nos conectamos superficial ou profundamente com aquela mensagem.
Nesta quarta-feira, dia 16 de junho de 2021, na aula de Introdução aos Estudos Literários no curso de Letras, fui apresentada ao poema encantador de Ricardo Domeneck, Conversa entre duas estranhas, poema este onde ele descreve e interage com os comentários de uma possível leitora, escritos na página de um livro de Clarice Lispector em uma biblioteca de Munique na Alemanha, que me remeteu a uma visão expandida de como nos conectamos a todo momento com pessoas desconhecidas e apesar disso, compartilhamos das mesmas manifestações de ideias, sentimentos, palavras e até mesmo discordamos delas, sem ao menos saber quem são.
Iniciamos e encerramos conversas com estas mesmas pessoas sem considerar nenhum aspecto superficial que em muitos momentos nos inibem e impedem de aproximarmos uns dos outros. Quantas vezes você conversou com a pessoa que está sentada ao seu lado no transporte coletivo, na fila do banheiro, hóspede no elevador do hotel? Quantos "bom dia" você dá? Mas se essa pessoa estranha se expressa através de um texto, seja ele verbalizado ou não, em uma superfície a qual posteriormente vai se deparar, você passa a conhecer através dos símbolos ou signos ali expostos um pouco daquela pessoa, ou no mínimo de como se relaciona com o contexto através de suas experiências anteriores.
Esse pensamento me leva a inúmeras linhas de raciocínio, sendo um deles, a forma que escolhemos nos expor para alguém, colocando eu mesma em observação, consigo identificar que, diversas vezes preconceitos em mim me impediram de iniciar ricos diálogos com pessoas maravilhosas, mas que posteriormente, encontrei em outras formas de comunicação para expressar aquele pensamento que me surgiu a cabeça quando da oportunidade de estar diante desta pessoa, como a escrita de textos e poemas em meu blog, não sei se posso chamar de atitude covarde, mas sei que eu precisava expressar, assim como muitas das pessoas que escolhem publicar conteúdos, a fim de que um dia, alguém se interesse, ou mesmo que possa dar continuidade aquela vibração energética iniciada pela conexão humana, dando sentido e se misturando a outras realidades.
Sem querer fantasiar demais, estou plenamente convencida do quanto a ARTE de se expressar esteve presente em minha vida desde muito pequena e, a consolidação dessas manifestações me permitem conhecer mais sobre mim, sobre o outro e sobre o todo. Quantas palavras silenciadas pela inibição ou outro motivo qualquer, acabam se transformando em outras manifestações artísticas, mesmo sem que o executor perceba? E de toda maneira a energia empregada continuará ali, a disposição de todos que estiverem em contato com ela.
Se desconsideramos o espaço e o tempo, por meio dessas manifestações, eternizamos as conexões, afinal, quantas declarações de AMOR deixadas ao acaso do vento e do tempo são escritas? E muitas dessas nunca chegam ao destino esperado no tempo presente. E também, quantas figuras, caricaturas, grafites e pichos são deixados a apreciação dos críticos da vida cotidiana em espaços públicos? Permitindo a expansão da relação entre TEXTO, AUTOR e LEITOR seja pelas inúmeras possibilidades no tempo e no espaço ou pela vontade de exteriorização ou apreciação dos sujeitos.
Eu sei que são diversas as formas de texto, leitura e conexões, mas aqui eu quero adentrar apenas nessa brechinha que nos leva muito longe, como a escrita na camiseta de alguém em sua frente no metrô, no ônibus ou na rua, você pode não conhecer aquela pessoa, mas simpatiza com aquilo ou também fica aguçado pela curiosidade e passa imaginar, criar ou refletir um universo de situações por meio de pensamentos pré-conceituais, cognitivos ou interpretativos sobre qualquer coisa que aquela estampa dá permissão a mente humana, isso porque somos dotados de um nível requintado de abstração (palavras da minha professora Claudia na aula de hoje de Introdução aos Estudos Linguísticos).
Por fim, gostaria de agradecer a todos aqueles que me conectei através das inúmeras mensagens e sinais distribuídos pelo espaço por terem se expressado, por terem deixado ali um pouquinho de seu EU, que se encontrou com o meu EU, no tempo que já passou e não é mais NOSSO, mas que me enriqueceu e a todos que estiveram dispostos a ler, pensar, saber, criticar e se CONECTAR pelo VERBO.
Dedico este texto ao meu Professor Valdir Prigol que me incentivou a desenvolvê-lo após a minha manifestação em aula sobre o tema.
Beijos de Luz!
Carina Zduniak
Fonte da imagem: https://m.desciclopedia.ws/wiki/Frases_de_banheiro



