Ventos alísios

 

Aquela noite,

Tão nublada e chuvosa,

Parecia até comum,

Sem interesse algum,

Me coloquei a escrever,

Sonolenta...

Me apareceu você,

Não sei se estava sonhando,

Ou aquilo era real,

Seus lábios me chamavam,

Eu nem sabia o que dizer,

Estendeu-me a mão direita,

E tirou-me dali,

Tiramos aquela roupa toda de frio,

E fomos juntos em direção a chuva,

A meia luz saindo pela janela,

Nas frestas da cortina,

Nos encaixamos e pomos a dançar,

Aquele bolero imaginário,

Que me fez recordar,

De momentos de outra vida,

Que tive com você,

A vida que não aproveitei,

Mas que veio me devolver.

Eu não tinha mais medo da chuva,

Na verdade parecia um presente,

Para aquele momento intensificar.

O pequeno quintal de casa,

Parecia a praça central,

Onde tem aquele imenso Colégio,

Que Tebas construiu.

Naquela dança infinita,

Trocamos carícias,

Sem malícia!

Sem buscar outro fim,

Que não fosse nos divertir,

Como sempre fizemos.

Sem me arriscar te olhar nos olhos,

Para não intensificar aquela chuva,

Te beijei suavemente...

Como nunca tinha feito antes.

Aquilo nem parecia um beijo,

Mas sim o encontro dos ventos do leste e oeste,

Enfraquecidos pela distância que percorreram,

Até chegar ali,

No ponto central,

Perfeito para ambos,

Para que não se machucassem,

Para que suas forças estivessem da frequência ideal,

E em seus caminhos não provaram nada igual.

A música foi sumindo e você se despedindo...

Como um último adeus,

Que não pude dar,

Dormi ali,

No quintal,

Sob a chuva daquela noite quente de verão.

Ao acordei me surpreendi,

Tava tudo quentinho por aqui,

Uma cama fofinha,

Um pijama sequinho,

Um beijo de canto,

Um bom dia sussurrado,

Do Meu Amor, que não tinha ido...

E se foi voltou.

Aqui estou, ele disse.

Me envolveu em seus braços e me fez sentir sua... e minha!

Doze anos desse encontro de amor e escuridão,

De chuva e seco verão,

De florida primavera,

E frutoso outono,

E frio...

Frio...

Mas só quando sozinha eu estava,

Abandonada por mim mesma.

E longe de ti,

Meu ponto de convergência,

O vento do oeste, envolvida no vento do leste,

Na alquimia natural,

Equilibrando os polos,

Alinhando os cometas...

Que há em mim...

Em você.