Vencendo o medo, uma reflexão sobre a vida

 


Introduzindo a rotina dos meus finais de semana nos anos 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007...

Aos 12 anos de idade comecei a trabalhar nos faróis de São Paulo entregando folhetos para empresas de empreendimento imobiliário junto com minha irmã de 14 e muitas outras tias e primas com idades próximas a minha. Eu, uma jovem belíssima, que maquiada parecia ter no mínimo 5 anos a mais, com a simpatia e simplicidade de uma menina criada no interior, a coragem e esforço de uma guerreira e brilho nos olhos de quem busca se aventurar em toda situação que lhe é imposta, fiz isso por uns cinco anos de minha vida.

Todos os sábados e domingos, eu e minha irmã viajámos cerca de duas horas e meia até o ponto de encontro de todas as trabalhadoras, saíamos de casa as dez para cinco, pois assim conseguiríamos passar na padaria e comprar um pãozinho delicioso recheado, que nunca tínhamos provado nada igual lá na nossa cidadezinha da metrópole, mas só na lei, pois metropolitana mesmo era só a linha de trem que dava acesso aos munícipes a São Paulo e a Grande São Paulo. Sempre éramos escolhidas na seleção que faziam, pois como eu disse, éramos jovens lindas e o principal trabalhávamos muito bem, do primeiro minuto ao último, almoçávamos sempre perto do ponto, cuidávamos dos folhetos a nós confiados, além de nosso carisma e respeito pelos clientes, Ah isso não abríamos mão! Apesar de sempre recebermos muitos vidros fechados na cara.

 

Matemática aplicada...

Sabe uma lembrança bem marcante? Eu sempre amei matemática! Sempre! E aos doze anos, quando comecei a entregar folhetos no farol, eu contava, quantos minutos um farol ficava aberto, quantos carros eu conseguia abordar neste tempo, e isso significava que eu entregaria 1000 folhetos até o horário de almoço. Eu fico lembrando e de muitos momentos da minha vida que usei a matemática e não era porque me exigiam, mas sim porque eu amava aplicar cálculos nas minhas ações e perceber quais eram meus limites. E assim foi.

Outra coisa que sempre fiz para levantar uma graninha eram as rifas que ofereciam lá na porta de casa para eu vender, comecei com 9 anos, depois foi indo, sempre que aparecia um cidadão na minha porta oferecendo rifa eu pegava, amava ver o dinheiro se movimentar, a alegria das pessoas nas apostas, e mais ainda a alegria dos vencedores em receber seus prêmios!

 

Carina, como é doida essa menina...

 

Hahaha isso era o que minha mãe dizia, sempre que chegava do trabalho e eu tinha uma novidade para contar a ela. Desde muito nova estive inteirada dos problemas sociais, financeiros, políticos, de violência e muitos outros que minha família enfrentava, muitos pais criticam isso, mas sabem de uma coisa, isso me formou ser humano e cidadã antes de completar os dez anos de idade! Nós sabíamos exatamente quanto dinheiro entrava em casa e quanto usávamos, sabíamos os horários, locais e companhias nas atividades de todos os membros de casa, conversávamos sobre diversos assuntos, sem que meus pais subestimassem a nossa capacidade de raciocínio a cerca do assunto, pois por mais que nos faltassem palavras para expressar, eles respeitavam e entendiam tudo o que falávamos, eu aprendi a contar e criar piadas com apenas 6 anos, pois meu pai era uma das pessoas que mais tinha piadas em seu acervo cerebral. Escrevi peças de teatro desde muito nova, acho que eu tinha uns 7 ou 8 anos, interpretei meus papeis ou mesmo os papeis que minhas amigas escreveram. Interpretei muitos papeis nas aulas e nas apresentações do curso de teatro da cidade, que eu fazia questão de ir, nem que fosse a pé, todos os finais de semana. Eu e minhas amigas, irmãs e primas, inventávamos desde os 4 anos de idade coreografias e paródias de músicas infantis e apresentávamos aos nossos pais, que amavam nos assistir e se reunir para um bom papo na calçada de casa, na rua, ou no quintal de alguma de nós.

O curioso é que, antes de falecer, minha mãe me disse que seu maior sonho era que todos nós lá em casa, fossem melhores amigos e realmente fomos! Ela e meu pai souberam exatamente como deixar isso claro, apesar de tantas dificuldades que enfrentaram para criar quatro lindas meninas em tão, tão distante. Nossos momentos em família foram mágicos! Me lembro muito que eles paravam num momento da manhã para ouvir o que eu tinha sonhado naquela última noite, nem sei o que eu dizia a eles, após contar eles ficavam rindo ou impressionados com minha precisão dos fatos e coesão em descrevê-los. De fato, fui uma pessoa muito respeitada e amada desde a minha concepção.

Quando eu ficava receosa com algo, sempre vinha a voz da minha mãe na minha cabeça, vai lá filha... vai Cá! E na medida que ia me aproximando eu ia percebendo que aquela sensação esquisita no estomago ia aumentando, mas eu já estava lá e não poderia desperdiçar aquela oportunidade, então, assim como minha mãe e professor de teatro ensinou, eu ia e fazia o melhor que minha alma poderia expressar, como se estivesse em uma cena inédita de uma novela rsrs, ao final eu sempre percebi, que as melhores expressões do público vinham de situações em que meu nervosismo estava mais em alta e eu só ouvia a voz da minha alma dizendo o que fazer!

Depois eu pensava, Caracas!! Minha alma é incrível! Até eu ficava surpresa com as coisas que eu dizia, e sempre no improviso, como meu professor de teatro dizia nas aulas, vamos ver o que sai daí...(rsrs).

Pra simplificar, gostaria de compartilhar com vocês que fui desde pitchiquinha, pitchiquinha mesmo, sei lá, uns 2 ou 3 aninhos uma garota observadora e centrada, e estimulada pela voz doce e imponente de meus pais CORAJOSA, que traduzido para a linguagem de minha mãe, “DOIDA”!  Uma loucura impulsiva para realizar tudo aquilo que meus contavam de mais incrível sobre o mundo... e nessa “loucura” de vencer o medo, eu passei a fazer teatro, dança, participava na escola, fazia parte do conselho da escola, fui presidente de classe aos 8 anos com a frase “todos devemos nos respeitar, porque isso é em nome da lei!” hahahaha, que copiei de um juiz incrível que vi em um filme, a professora e os colegas foram ao delírio, e ganhei a eleição de lavada. Bom, fui uma das alunas mais participativas, uma católica muito participante na comunidade, ganhei muitos prêmios na escola por ser a melhor aluna da turma, trabalhei desde os dez anos fazendo bordado e brincos artesanais para uma vizinha, depois fui trabalhar nos faróis da Grande São Paulo e não parei mais, trabalhei porta a porta, no Mc Donalds, em uma contabilidade (sem experiência em escritório, peguei as dicas da rotina da biblioteca comunitária do meu pai e vizinhos onde eu ajudava para passar na entrevista), em lojas de sapatos e roupas, telemarketing, promoções e eventos, modelos comercial, estagiária, garçonete, bartender, divulgadora, empresária, assistente jurídica... ah fora os trabalhos comunitários que realizei desde a infância tais como acompanhar meu pai nos protesto e atos em defesa do povo, trabalhar na biblioteca lá do bairro que meus pais e os vizinhos fizeram, etiquetando os livros, entregando e recolhendo os empréstimos, relacionando os livros, tudo manual e sem auxílio de computador, nossa alegria era uma máquina de escrever doada que temos até hoje. Além de jogar basquete, fazer dança do ventre, street dance, acompanhar meus pais nas expedições na mata perto de casa. Depois que comecei a trabalhar no telemarketing conheci meu namorado, atual esposo Ricardo. Que morava mais de 60 km de casa (rsrs) só pra dificultar mais um pouco e deixar tudo mais empolgante.

Fui professora de cursinho comunitário no curso preparatório para o ENEM pela ONG EDUCAFRO, doadora de sangue plaquetas pelo Instituo PRÓSANGUE, participei do Conselho Municipal da Juventude de Caieiras, fui Madrinha na Copa dos Refugiados pela ONG África do Coração, militante pelo Partido dos Trabalhadores de Caieiras, mas, o que mais de especial carrego, é a forma com que meus pais me ensinaram a tratar as crianças, com AMOR, RESPEITO e a identificar nelas a divindade do saber que tentam expressar pela poucas palavras que conhecem, eles me ensinaram a OUVIR as crianças, como todo e qualquer ser humano, mas em especial as crianças, pois eles tem muito sentimento em tudo o que dizem, e apesar de a tal INTELIGÊNCIA EMOCIONAL estar na moda, eu acho que o que tem que estar em alta sempre além destes que já citei, é a EMPATIA, COMPAIXÃO, SOLIDARISMO E ALTRUÍSMO.

Bom, sei lá, essas são algumas das coisas que fiz até os meus 29 anos que quis compartilhar no momento com vocês, outras coisas já foram compartilhadas em outros textos e outras ainda não é o momento certo para eu dizer...

Alguns me chama de doida, outros de corajosa, outros dizem “é só uma menina querendo se aparecer!”, outros acreditam que existe uma explicação maior para tudo o que digo, outros nem querem me ouvir, outros nem tentam me conhecer, outros nem sabem que existo... E é isso! No entanto, por trás de múltiplas ações e algumas palavras posso afirmar que, em todas elas a dúvida as precedeu, o medo as atrasou, a incerteza as venceu em muitos momentos, porém, em grandiosos outros momentos eu tive a iniciativa de executá-las, com a minha bagagem da época...

 O QUE APRENDI?

O que posso deixar de aprendizado em tudo isso que vivi, é que assim como meus pais me ensinaram, eu ouvi o que as pessoas tinham a me dizer, apesar de ter feito um filtro no momento em que as palavras chegaram até mim e absorvido somente o que era importante, eu ouvi, mas só até o ponto em as palavras não tentaram me limitar, não tentaram dar mais forças ainda para o medo, incertezas e enfraquecer a minha coragem, que em muitos momentos me faltou.

O medo existe e é real, mas este se trata da força de muitas pessoas juntas enrijecidas pela falta de coragem própria, uma força que teme as ações de uma parcela da sociedade que sonha e quer realizar seus sonhos ... e que de alguma forma tentam exercer o controle uns sobre os outros.

E o grande segredo para vencer o medo é mentalizar aqueles que mais amamos nos estimulando a fazer as ações maravilhosas que idealizamos e queremos realizar, ouvindo suas vozes aos pés de nossos ouvidos docemente dizendo VAI LÁ MINHA (MEU) FILHA (FILHO) EU ESTOU COM VOCÊ!

Mesmo que não estiverem o AMOR que deixaram em ti sempre os acompanharão seja onde for... pois o AMOR é a força que desobstrui tudo aquilo que limita os sonhos, no tempo perfeito para que se realizem!

 

A PAZ e o AMOR de Deus estejam com você!


A galera tá curtindo mais esses aqui...