Que saudades da Quitéria!

 

Quitéria, Quitérinha e até Quiti,

Minha vizinha,

Melhor amiga,

Sempre que eu arrumava uma briga,

Era Quitéria que ia me defender,

Não deixava ninguém me bater,

Não sabia o que estava acontecendo e corria pra me socorrer.

Nos trabalhos da escola,

Era sempre minha parceira,

Eu muito boa em matemática,

Sempre “compartilhava” as respostas com a Quiti,

Já tínhamos nossos códigos e métodos,

Na hora da prova se dava bem eu e ela.

Ah que saudades daquela,

Ah que saudades da bela,

Quitéria,

Cheia de namorados, que só eu e ela sabia,

Ás vezes nem eles imaginavam que namorar eles ela pretendia,

Bons tempos, bons tempos...

A volta da escola era sempre uma aventura,

Tinham brigas das meninas que não tinham o que fazer,

Tinha casal novo se apresentando de mãos dadas,

Tinha gente diferente na saída da escola,

Tinha polícia fazendo a ronda,

Já teve até guerra de maçã,

Um horror de se ver!

Todo mundo correndo pra se esconder,

E os atingidos sempre revidavam,

E a guerra não acabava!

E a Quitéria só ria,

Que menina esquerinha!

Crescemos juntas,

Brincamos juntas,

Estudamos juntas,

Mas chegou a hora de nos separar!

Uma tristeza sem fim,

Para ela e para mim,

Lá onde eu morava,

Só tinha emprego no mercado,

Ou na venda da Dona Marta,

Pra trabalhar de sol a sol,

Ou na farmácia do Espanhol,

Que não dava nem uma hora de almoço,

Mas que desgosto!

Se você comer e ficar sentada aí eu vou ter que fechar as portas e te demitir!

Você quer isso?

Carregar essa culpa?

Ai ai Seu Espanhol...

Se soubesse o que aprendi na faculdade...

O Senhor fechava as portas quietinho e ia trabalhar pra Dona Marta!

Eu fui estudar e trabalhar,

Lá na cidade grande que tive que ir morar,

Pela falta de oportunidade daquela cidadezinha de onde vim...

E a Quitéria?

Trabalhou pra Dona Marta,

Para Seu Espanhol,

Fez curso de bordado pela Igreja,

Mas acabou foi casando com o Roberto nosso colega de classe...

Quem diria...

Ele passou num concurso lá na Bahia,

E levou minha amiga.

Hoje ela está de barriga,

Parece que é menina!

Eu queria ir para o Chá,

Mas não vai rolar!

Uma praga se instalou no mundo todo,

E tá todo mundo isolado,

Quitéria é grupo de risco,

Não posso colocar ela em perigo.

A noitinha vendo nossas fotos fico pensando,

O que seria de mim aqui se tivesse Quitéria comigo...

Essa modernidade me afastou da minha amiga,

Da minha irmã de coração!

Ainda tenho esperança de rever a Quitérinha,

Dar-lhe um abraço apertado pra que ela nunca mais saia daqui,

Dos braços que não puderam se despedir antes de ela partir.

Ah que saudades da Quitéria!

A galera tá curtindo mais esses aqui...