Um passo em falso
O resultado das
urnas nas eleições municipais em todo o país (Brasil) se mostrou extremamente
preocupante, não somente porque muitos políticos se reelegeram sem apresentar
propostas contundentes ou obras e projetos concluídos de seus mandatos, mas
também porque, apenas um linear ideológico tomou conta da nação, o que nos põe
a refletir como é que a democracia está sendo suprimida pela articulação e
estratégia política de sucateamento dos institutos políticos mais importantes,
fazendo com que cada vez mais as pessoas estejam menos interessadas no bem
comum.
Um país onde
muitas pessoas, nos últimos três anos entraram na miséria e a maior parte da
população é baixa renda, que carecem de auxílios fornecidos pelo governo, além
de serem dependentes de programas sociais, mais de 90% dos candidatos a
prefeito eleitos são aqueles que usam da política e dos privilégios do poder
público para se beneficiarem e beneficiarem também seus familiares e empresas
de amigos ou parceiros comerciais, impedindo o progresso nas perspectivas
social, econômica, jurídica, legislativa, política, educacional e de saúde .
Quase 70% dos
candidatos eleitos são políticos que já estavam na ativa e nada apresentaram de
novo ou concreto quando da oportunidade de ocuparem seus cargos, ou mesmo
indicados por aqueles que já estavam no poder para que deem continuidade a
mesma forma de governar.
Grandes
movimentos foram percebidos pelas frentes de esquerda na tentativa de inovar a
abordagem e atrair as pessoas ao debate construtivo nestas eleições, tais como,
a abordagem mais técnica e contundente das propostas de governo apresentados,
onde a maioria trouxeram projetos muito bem fundamentados, cuja a elaboração
demandou muito estudo e levantamento de problemas e dificuldades enfrentadas
pelos mais diversos perfis de munícipes, sejam da periferia ou dos bairros
centrais.
Ocorre que, ao
passo que vamos avançando com os anos é notado o enfraquecimento em grande
escala dos partidos de esquerda, que se deu principalmente pela ausência de
consciência de classe da maioria dos eleitores que não se identificam como baixa
renda, proletariado/trabalhadores ou destinatários das políticas públicas de
inclusão, cultura, educação, saúde, esporte e lazer, onde muitas delas foram
extintas em cerca de 500 decretos presidenciais do então atual presidente Jair
Bolsonaro, que vale lembrar, contou com o apoio de quase todos esses candidatos
eleitos para se eleger em 2018, em uma campanha onde se cultuou o ódio, a
discriminação, além de fomentar a segregação político partidária, o regresso
histórico cultural do país com incitação de crimes cometidos por militares na
época do golpe de 1964.
Há que se pensar
tudo está fazendo sentido, pois na medida em que a ideologia do medo, medo da
doença instalada na sociedade sem qualquer esperança concreta de cura, que
levou a morte de milhões de pessoas ao redor do mundo, medo de voltar a
miséria, medo do desemprego, medo da falta de amparo quando em um estado de
maior vulnerabilidade ficarem, ou mesmo a cultura do ódio e segregação pregada
pela bancada dominante no governo, a população passa a aceitar propostas de
melhoria imediata oferecidas pelos candidatos que ofereceram desde vagas de
trabalho temporárias nas campanhas ao pagamento fácil e vantajoso em troca de
voto, como aconteceu no município de Caieiras/SP onde um candidato foi
conduzido à delegacia pois foi flagrado comprando votos na porta da Escola
Estadual Isaias Luiz Matiazzo, além muitos outros em nome de vereadores também
estavam transacionando a compra de votos.
Ao que podemos
perceber é que, mesmo que milhões de pessoas em todo o país foram favorecidas
pelos governos de esquerda, ainda há, não só por parte da população mas em
principal dos políticos e suas cúpulas em permanecerem no poder, um forte e
intenso movimento de precarização dos serviços públicos prestados a população,
que permite uma maior margem de dominação entre classes. Fato é, que a ilusão
que tomou conta do pequeno empreendedor ou dos funcionários pejotizados , de
que estão “livres” das regras de subordinação trazido no contrato de trabalho, além
daqueles que passaram a se beneficiar com maiores salários e se autodeclaram
“classe média”, fez com que a luta pela cobrança das contrapartidas do governo
às classes mais carentes ficassem esquecidas e até mesmo odiadas, nas redes
sociais, nas ruas e nas urnas.
Além da falta de
consciência de classe e ausência de luta pelas maiores faixas da população,
temos que considerar a demora da esquerda em aceitar os erros na gestão dos
governos do Partido dos Trabalhadores em todas as esferas, municipais, estaduais
e federais e, assim fazer a autoanalise identificando quais pontos mereciam
continuar sendo aplicados e quais deveriam ser interrompidos ou aprimorados, como
aconteceu na reeleição de Dilma Rousseff, que foi objeto de um dos maiores
golpes contra a democracia estabelecida a tanto custo no país, que mesmo com
toda mobilização nas ruas, a presidenta foi afastada de seu cargo e impedida de
governar. A época do golpe a esquerda era minoria, representando menos de um
terço na câmara dos deputados e no senado federal, no entanto, as rivalidades deveriam
ficar apenas na disputa eleitoral e nos debates, ocorre que o que presenciamos
foi um golpe em desfavor da presidenta de esquerda pelas bancadas da direita e daqueles
que usam o discurso do conservadorismo para ganhar a afinidade de parte dos
eleitores, como acontece com a bancada evangélica, que de conservadores não têm
nada.
O grande desafio
dos socialistas e democratas no país será de saber se posicionar politicamente
independentemente de cargo público, fazendo valer as conquistas históricas nas
seções da câmara dos deputados, senado federal, assembleias legislativas,
prefeituras e tantos outros núcleos que carecem da participação cidadã, como nos
tão temidos tribunais de contas e reuniões dos conselhos municipais. Fazer o
trabalho de formiguinha, que só para constar a título de curiosidade proporcionalmente
a seu tamanho vive muito mais do que a espécie humana e tem o poder de carregar
matéria cujo peso corresponde a quatro vezes o seu peso, trabalho este que sem
união e minuciosidade não terá expressão nas próximas eleições presidenciais,
onde correremos o risco de viver a ditadura da política e politicagem da direita
falida, resultado na perda de muitos mais direitos e vitórias da humanidade
representadas legislativamente no território brasileiro.
Assim, podemos
dizer que essas eleições municipais nada mais representou do que numa tentativa
frustrada na busca pelas mudanças e representatividade, um passo em falso em
direção ao futuro da igualdade, justiça e política social nos grandes e
pequenos municípios de toda uma nação chamada Brasil.


