Na escuridão
Um menino,
Um capuz,
Mão no bolso,
Mochila nas costas,
O escuro,
A esquina,
A cidadã de “bem”,
A pressa pra pegar o trem,
Derruba sua carteira,
Sem eira nem beira,
Grita:
-O ladrão!
O menino longe,
Ouve passos em sua direção,
Corre assustado,
Está desenganado,
Sobe na cerca e pula o muro,
É pego pelo “seu guarda da estação”,
Fora de sua área de atuação,
Faz a autuação,
Leva o menino,
Sem identificação,
Jovem e negro,
À noite, sozinho e sem dinheiro,
É culpado!
Já fora sentenciado,
Desde o início do fato.
A “vítima” o condena,
-Foi ele! Com esses olhos indecentes e esse jeito cabisbaixo, foi tão rápido que nem percebi na hora, e depois jogou fora, e agora?
O delegado intrigado:
-Mas sem provas não tem crime!
A vítima e as testemunhas rebatem:
-E a resposta a sociedade? Ele não pode ficar impune!
O menino sem esperança, com seu rostinho de criança:
-Posso fazer um telefonema?
O Delegado:
-Claro que sim, pra quem vai ligar?
O menino com a face entristecida a chorar:
-Pra minha “Prô Sueli”, ela sim vai acreditar em mim!
O Delegado curioso questiona:
-Por que a professora?
O menino:
-Por que Dona Sueli não se engana! Essa sim me ama, me ensina, me anima, me mima, me corrige, me alimenta e todos os dias, me recebe em sua casa sem muito esforço para as aulas de reforço. Ela me fez entender, que ser negro e pobre é ser guerreiro, e ligeiro vou estudar, pra me libertar, das amarras que me colocaram antes de eu nascer, e não posso ver, mas posso sentir, e por isso me escondo dentro de minha blusa, mas dessa vez não adiantou, essa Senhora me achou e me condenou. Agora preso aqui estou, em mais uma cela, e não sei o que fazer pra sair dela, ao menos poderei me despedir, da Dona Sueli, que de tudo fez pra mim, tentou me proteger, mas agora não temos mais o que fazer.


