RESUMO DO TEXTO: Claudia Andujar e a tradução xamânica, de 16 de outubro de 2019.
Fotografia de Andujar, produzida entre 1971 e 1977 na região do Catrimani, em Roraima.
O texto Claudia Adujar e a tradução xamânica é
um artigo digital, publicado pela Revista Zum, do Instituo Moreira Sales e
escrito por Pedro de Niemeyer Cesarino, graduado em filosofia pela Universidade
de São Paulo, mestre e doutor em antropologia social pelo Museu Nacional/ UFRJ,
também é autor dos livros Oniska –
poética do xamanismo na Amazônia, ganhador do prêmio Jabuti de Ciências
Humanas. Na leitura, nos deparamos com linguagem acessível, dada a natureza do
texto, ambiente de publicação e público leitor. Contudo, existem diversos
elementos de intertextualidade que vão possibilitar a expansão da leitura, para
melhor compreensão e uma exposição fidedigna de trechos das obras apresentadas,
com enfoque na tradução da filosofia da cultura Yanomami expressada em seus
hábitos e rituais, e representada as fotografias de Claudia Andujar.
A estrutura do artigo é
organizada para problematizar e enaltecer as obras de Andujar, haja vista que, o
primeiro parágrafo é iniciado com indagações sobre as possibilidades de
representar na fotografia o que é invisível aos olhos nus, ocidentais e
não-indígena, bem como fora de rituais de consagração Yanomani, os xapiripë, que conforme o texto, são
múltiplos humanoides que existem a muitos anos e estão presentes quando da
consagração da yãkoana preparada para consumo ritualístico pelos Yanomami.
Rompendo paradigmas e
promovendo um olhar mais íntimo, Niemeyer levanta a crítica quanto as obras
fotográficas que foram apresentadas antes, no contexto e além de Andujar, as
quais se voltavam aos adereços, arquitetura e corpos indígenas, devendo estes
serem numerados, categorizados e catalogados para distinção de raça, etnia,
identidade e tipos de objetos. Inclusive uma crítica às narrativas construídas
sobre quem eram os Yanomami e como eram registrados, pela a sociedade dominante
de hoje e de outrora, na exposição da fotógrafa e ativista, Marcados, e posteriormente abordada nos relatos de iniciação xamânica,
do xamã e também ativista, Davi Kopenawa, conforme menciona Niemeyer.
Onde ambas as obras são
potencialmente impactantes e moduladoras das escolhas de tradução visual dos
povos Yanomami, observado que, respeitosamente, Andujar e Kopenawa adentram,
convivem, compreendem, ainda que parcialmente os hábitos e ritos, e por
determinados período passam a pertencer àquela comunidade, para então,
representar, conforme suas técnicas fragmentos daquela cultura.
A intertextualidade nos remeterá a identificar
que de fato os xapiripë não são
passíveis de serem fotografados, nem mesmos os sons produzidos por essa
comunidade, mas a expertise de Andujar em conjunto com sua pesquisa,
possibilitou que nas fotografias de exposição Catrimani, nos anos 70 e 80, além dos movimentos miméticos reais
dos xamãs em ritual, fossem igualmente representados pela utilização de
técnicas com fogo no escuro, um recurso de verossimilhança que até hoje causa
grande impacto e admiração aos observadores de suas fotografias.
Para além, da cultura,
sutilmente, Niemeyer também explora o ambiental, social e político, ao
correlacionar com os trabalhos de Kopenawa e Andujar ao ativismo político em
defesa da vida, organização social, demarcações de terras, não exploração e
apropriação indevida dos registros ali produzidos, como também respeito aos
preceitos religiosos e espirituais desse povo, do qual Andujar foi alvo, sendo
considerada, em tempo de guerra civil no Brasil, uma espiã do governo
expropriador e genocida, do ponto de vista daqueles que estavam em comunidade
Yanomami.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
NIEMEYER, Pedro Cesarino.
Claudia Andujar e a tradução xamânica. Revista Zum, 2019. Disponível em: revistazum.com.br.
Acessado em: 18 de Out. 2.023.
*Trabalho apresentado da unidade curricular de Arte Indígena, na Universidade Federal de São Paulo.



