Parem de me julgar!
De sainha,
Sou garota de programa,
De blazer,
Sou preta metida,
De biquíni,
Sou mulata querendo ser "vendida",
De turbante,
Sou macumbeira,
De colar,
Sou mãe de santo,
Se sou magra,
Não tive sorte,
Se nascer com pele mais clara,
Tive sorte demais,
Por não parecer com meus pais,
Se sou professora,
Segui o padrão,
Se faço Direito,
Quero fazer revolução,
Se danço funk quero ser meretriz,
Se danço forró sou brega, fuleirinha...
Se uso meus cabelos naturais,
Sou porca ou suja,
Se aliso,
Quero negar a minha família,
Se me junto com amigos da mesma cor,
Estou sendo preconceituosa,
Se me junto com amigos de outras cores,
Estou querendo negar os amigos de infância,
Se vou fazer faxina por dia,
Sou preguiçosa e não quero estudar,
Mudar,
A história,
Se vou estudar,
Mergulhar para contextualizar,
Por um tempo com o auxílio estudantil contar,
Estou sendo sangue-suga da verba estatal para isto destinada,
Afinal,
Do que adianta cursar se não contextualizar?
Ser negra, pardam indígena e "pobre" aqui na pátria mãe Brasil,
É ser taxada, julgada e encarcerada,
Pelas falas,
Pelos olhares,
Pelos dizeres,
Que só alcançam,
Aqueles mesmos herdeiros,
De nome e sobrenome,
"Nobre".
