Tente, outra vez!

 

Como começar...

Era uma vez um barco,

Velho,

Cheiro de madeira e outras iguarias,

Só de lembrar me causa nostalgia,

Eu e meus marujos brindávamos ao anoitecer,

E mais um dia no mar vencer.

Quando chegava lá no meio do mar,

Aquela quietude e calmaria,

Que por instantes não sabíamos de onde viemos,

Ou onde iríamos chegar,

A não ser que olhássemos para ela,

A bússola a nos direcionar.

Que invenção mirabolante dizíamos,

Mas aquele sossego todo,

Me deixava meio bobo,

Às vezes louco,

Que começava ver coisas,

O mar me refém de seus movimentos,

Desde a primeira vez que adentrei,

Eu era só um moleque franzino,

Nem me importava para onde o barco estava indo,

Buscava experienciar, sentir aquela adrenalina,

Ver as temidas sereias,

Entrar na boca de uma baleia,

Sei lá!

Ele me puxava,

Eu não conseguia nem dormir quando estava atracado,

Ficava agoniado,

Inquieto,

Nada me completava,

Nem o afeto,

Da minha Mãe,

Foram muitos anos e muitas vidas entregues ao mar,

Que diacho era isso?

Nem um relacionamento eu conseguia firmar.

Momentos,

Momentos,

Momentos,

Essa foi a ideia de felicidade que me fez continuar.

Até que a encontrei no porto perdida,

Uma cachorrinha simpática a procura de um dono,

Estava perdida,

Alguém abandonou ali depois de embarcar.

Eu precisava encontrar um dono pra ela,

Pois EU, não podia ser,

Eu sou do Mar,

Pelo tempo que ela ficou ali,

Fomos Amigos, parceiros, uma dupla ideal,

Ela me fazia sorrir com leveza,

Corria muito,

Nem fazia barulho,

No meio de tanto entulho,

Bagulho!

Até que chegou a hora de partir,

Fui de porta em porta pedindo abrigo para ela,

Até que a Nete do Café,

Falou “Deixa ela aqui”,

Ao menos comida eu dou,

Eu amarrei ela lá com um pedaço de barbante,

Ser nem perguntar se a Nete sabia cuidar,

Não passou um dia lá,

E ela fugiu,

O barco não tinha saído,

E minha “Amiguinha” fugido,

Me desesperei,

Mas aquilo não me impediu de embarcar,

Sabe o quanto eu era necessário naquela viagem?

NADA!

Mas eu estava deixando o mar me dominar,

A viagem teve seus picos de alegria,

Mas minha cabeça só ficava naquela Cachorrinha,

Pretinha,

Com pelos irregulares,

Aqueles olhos negros,

E as patinhas suave.

Nem um nome ela tinha,

E se tinha eu desconhecia,

Mas odos os dias ela estava ali,

Lambendo minha cara e me colocando de pé,

Como nunca tinha acontecido antes,

Eu estava amando alguma na coisa na costa,

Terra firme me chamava,

E dentro e distante da viagem eu ficava.

Passei a meditar,

Lá vendo as estrelas,

No meio do Mar,

Quando pensei neste ato de coragem de se soltar,

E correr daquilo e de onde não quer ficar,

Minha Amiguinha estava me ensinando,

Que a liberdade que encontrei no mar,

Me fez escravo,

Da rotina,

Da adrenalina,

E eu precisava voltar a ser menino,

Ou encontrar o herói dentro de mim mesmo,

Que deixei no caminho,

E que esqueci,

Que suprimi,

Que me faz sorrir,

Ver as cores,

Amar o diverso,

Escrever outro verso,

Ou versão,

Pra minha vida,

Não virar rotina,

Obrigacional,

Prisional,

Do que não é maior do que eu.

A viagem chegou ao fim,

E corri pra procurar,

Aquela Cadelinha,

Mas não a encontrava em nenhum lugar,

Perguntei por toda a cidade,

Então resolvi o barco trocar,

Por moradia sólida,

Trabalho registrado no prego,

Calçar sapatos sem furo,

Escovar os dentes todos os dias,

E colocar um bom casaco,

E degustar das maravilhas da cidade.

Até que uma tarde no farol,

Na ponta da praia,

Em uma carruagem distante eu a vi,

Tinha um laço,

E estava com os pelos brilhosos e cortados,

Com uma família que sorriam sem fim,

E foi aí que EU entendi que ela não para mim,

Ela não deveria pertencer a ninguém,

Pois foi com um Anjo que passou por ali,

E me tirou daquela prisão do Mar,

Às vezes penso em viajar,

Mas logo desisto,

Decidi encontrar novas alegrias,

Como dançar,

Cantar,

Namorar,

Conversar,

E ser livre de verdade,

Outra vez,

Por que eu tentei,

E consegui.

A galera tá curtindo mais esses aqui...