Segui minha caminhada
Perdida a beira da estrada,
Sob o Sol ardente do solstício de verão,
Nos ombros minha mochila com trecos e um último pedaço de
pão,
Feito por minha mãezinha que não pôde ficar.
Saia longa e chinelo de borracha,
Camiseta e cabelos presos,
A pele chega a estar dura e craquelada,
Desidratada!
Andando a dias naquela rodovia.
Os carros passavam e tinham mais medo de mim do que eu
deles,
Maltrapilha e toda desengonçada,
Com as veias da perna saltando,
E a roupa toda manchada,
Daquela terra vermelha,
Na beira da estrada.
Passei por alguns andarilhos, amigos e ranzinzas,
Uns sapatos e com buraco na barriga,
Com uns dividi o pão, a outros ofereci uma massagem,
E outros nem isso... não olharam nem para o lado.
Relutando com as minhas capacidades físicas e de saúde,
Com minha força e fé,
Me colocava todos os dias em pé,
A continuar o meu trajeto,
Tinha espinhos, cobras e formigas,
Lagartixas que se tornaram minhas amigas,
Em certo ponto, comecei a delirar e até ouvir elas
conversar, sobre tudo, sobre todos, que viam e sabiam,
Meus quarenta dias na estrada,
Fizeram de mim outra mulher,
Que eu não conhecia e nem imaginaria que me tornaria,
Fria e sentimental,
Chorava noite e dia,
Eu nem sabia onde essa fonte de água estava,
Mass ao final, em todo canto que uma lágrima caiu,
Uma flor surgiu,
Eu deixei parte daquela secura fofinha,
E até o vento quente me agradecia.
Pensei que buscava chegar ao final,
Mas ao passo que fui conhecendo o caminho e me preenchendo
daquilo tudo,
Lá no fundo,
Senti que precisava recalcular a rota,
O que levaria quinze dias, passou para vinte, trinta e
depois quarenta,
O ponto de chegada é o mesmo,
Só decidi que deveria conhecer mais,
Me apaixonar mais,
Degustar mais de todas aquelas sensações,
Subindo, descendo, saltando e caindo também,
Mas o importante é que sempre agradecia, honrava e dizia
amém.
Quase no finalzinho, com as pernas cansadas,
Me deparei com uma onça machucada,
Estava tão fraca que não podia reagir,
Então sentei a seu lado e com sua cabeça em meu colo, cantei
“Tomara, Tomara que...” ,
Ela sorriu com os olhos e fechou bem devagarinho,
Dei um beijo suave e a enterrei ali mesmo,
Com muito carinho.
Aquilo foi tão forte para mim que quase desisti,
A poucos passos do final,
Então foi que olhei para a minha mão direita,
E vi a coisa mais incrível de toda a viagem,
Uma Bela e Rara BORBOLETA,
Enviada por Deus para me tirar dali,
Me fazer de novo sorrir,
E ao meu entorno colorir,
Suas asinhas eram douradas e tinha uma luz roxeada que
formara em seu movimento,
A segui que nem senti mais a dor nos pés,
Como poderia tão pequena e expressar tanto Amor?
Não sei do que foi feita,
Mas sei que faz e fez milagres em mim,
E em quem pôde ter o prazer de conhecer este ser.
Talvez eu esteja enganada e aquela seja mesmo uma fada,
De fato não sei,
O que sei é que ao final cheguei,
Aquela borboleta não mais avistei.
E a todos pude contar a experiência que vivi,
Na fila em frente àquele MAR,
Esperando o “Taxi para a estação Lunar...” .
12/02/2021



