NOSSAS CHAGAS
Eu saí de lá foi pra estudar,
Não se engane! SER vestido de machismo,
Que N Ã O vou servir de boneca pra seu fetichismo.
Estudei foi pra me libertar,
E nem a maquiagem eu vou retocar,
Muito menos meu batom vermelho tirar,
Outra vez!
Graduada em Direito?
Favelada metida a rica tentando se posicionar.
EU NÃO TENHO OAB!
E POR QUE É QUE EU TENHO QUE TER?
CINCO ANOS DE GRADUAÇÃO E É SÓ ISSO QUE VOCÊ VÊ?
Eu não vou trabalhar pra você!
Me prostituir outra vez,
Pegue o seu trocado e vai lá no mercado,
Nem uma bandeja de ovo eu pago.
E por falar em Direito,
Minha Avó não podia nem divorciar,
Muito menos uma faculdade frequentar,
Ou o Estado questionar,
E quando estuprada aos três anos eu fui,
Tive que me contentar,
Com a resposta gentil do delegado,
“A gente não encontrou o cabra-macho e não vamos mais procurar”,
“Se o avistar me avisa”.
“O seu pai te espanca?
É direito do adolescente e da criança,
A correção e viver com o nó na garganta,
Só não treme a mãozinha porque tem que assinar”,
Aqui no final.
Aí surge a Delegacia da Mulher,
Pra quem quiser…
Viajar e ir até onde ela está,
Porque funciona, mas tem jurisdição.
Óh instituição cega,
Precisa de mais regras,
Tú sopra nos olhos dos outros,
Ainda com os dentes sujos das sobras do seu fino almoço,
E diz estar emancipando,
Se preocupando com os limites,
Da BONDADE legal,
Deu o espaço de fala,
No horário em que as MARIA trabalha,
Um circuito fechado,
Tudo amarrado,
Igual a cereja do bolo,
Um só fala,
Geralmente o laranja,
Só um que come,
Certamente aquele que aparece na foto,
O macho,
O coronel,
Aquele cão que só “LATTES”.
Pra visita do inglês o Brasil é campeão em fazer sala,
Serve o café fresco mas esconde a mala,
Aquela antiga,
Com pertences usurpados,
Das mulheres que não tinham cidadania,
QUE COVARDIA!
Cheia de planos essa Constituição,
Mas não consegue executar,
Por que será?
Me encontra nas telas e se dá uma de machão,
Tenta virar o jogo,
Parecendo um louco,
Mas já viu o meu machado e a carnificina que eu faço?
A rainha das telas, vê se aceita,
EU sou STREAMER
Eu não jogo mais com você que nem sabe perder,
Precisa ligar o microfone só pra me ofender,
Já somos mais de 53% das minas que jogam e disputam os pódios dos games,
Tá difícil de gerir,
Ou de engolir,
Toma água que desce.
Põe a mesa,
Que agora vamos falar da beleza.
Sem delicadeza,
Eu sei que aguenta!
Sociedade de retalhos passando por tecido nobre,
Vocês me excluíram mas eu não deixei de existir,
Vocês temem que todos despertem às vozes de Platão,
E deixem toda essa estrutura no chão.
Esse é aquele que ilumina nossa retina e diz que seja mulher, idosa ou menina,
Obesa, magra, branca, vermelha ou preta,
Tú alcanças o ápice da beleza,
Pela filosofia,
Leitura e reflexão,
Então não se engane com o Aristóteles,
Aquele que gosta de aparecer nas TVs,
Nas mais variadas formas,
Nos comerciais editados,
Nas propagandas que usam a figura feminina como atrativo,
DESCONSTRUÍDA pelo bisturi,
Fazendo parecer que belo é somente ser isso aí,
E não ter conteúdo,
Nem pra falar,
Do lugar que vive.
A marca da discriminação estética me deixa na margem,
Mas tudo bem, eu não tenho pressa pra correr com as águas do rio,
E ver tudo rápido,
Meu ritmo,
Meu limite,
Eu me respeito,
Assim desse jeito,
BELA,
Comecei a gostar da margem,
Daqui eu vivo e cultivo minhas flores.
O texto foi resultado da leitura dos textos e relatos pessoais fornecidos pelas discentes Carina Zduniak, Rafaela de Ávila Farias Bordignon, Maria Luiza Bolson Leite e Daiandra Bellé Domingues da Silva à disciplina de Introdução ao Pensamento Social, ministrada pela Doutora Rubí Garcia Vieira, da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó.



