Não me sinto

 

Fonte: Imagem cedida por Shaiany Fonseca




Eu ainda sento naquela cadeira de balanço na sacada,

Para olhar a rua, como se estivesse interessada,

Tudo o que passa não me interessa,

Só me permite sentir que estou certa e solitária,

Eu me distancio do mundo e desejo que ele se aproxime de mim,

Os ventos sorrateiros balançam as bandeirinhas da copa de 2018,

Que nem me lembro onde foi,

Não sei se ainda existo,

Mas sei que estou aqui,

Acho que nunca parti de onde vim.

Eu me sinto a deriva e atracada,

Um incomodo, é como se alguém estivesse prendendo a minha mente,

Meus braços e sentimentos bons,

Me sinto como a parede velha e descascada da escada da rua para o jardim,

Aas cores vibrantes já não me impressionam mais,

Quantos anos eu tenho?

Isso importa?

Acho que sim, afinal, se não importasse não perceberia o cansaço que assola minha retina,

Queria ver longe, mas é só isso aqui,

Posso olhar para frente e ver a miragem do horizonte verde,

A esquerda o mar, que hoje está calmo e agitado às vezes,

Ou para trás,

E ver a cozinha, onde está a minha chaleira,

Voltar pra minha rotina e ferver um chá,

Que metáfora não?

Vou descer lá e ver de perto,

Ou ficar aqui imaginando,

Será que um dia vou voltar a dar uma gargalhada daquelas que doer a barriga?

Ou vou ficar só com a memória de como eu fui feliz?

A rotina me engole, é como se eu não me pertencesse mais,

Hábito de higiene, alimentação e algum trabalho que eu arrumo pra ocupar a mente.

Eu podia ler um livro, lá do alto de um apartamento em Nova York ou fumar um cigarro num café qualquer em Paris,

Aqueles olhos negros no espelho me dizem muito mais do que posso decodificar,

Eles não são meus,

Eu não sei de quem são!

Eu vejo as nuvens, passarem, o Sol mudar de lugar gradativamente,

A formiga que vem pegar um pouquinho de água doce, vir e voltar,

Mas ela sempre está lá,

Nem sempre iluminada e vista a olhos nus,

Mas está.

A lua fala comigo,

Me diz que eu ainda sou aquela mocinha encantadora de sempre,

Mas não temos mais a mesma disposição física e emocional,

Eu durmo aqui e sei bem que ela me vê,

De onde está ela sabe que estou confortável,

Sabe que eu gosto,

A dor é igual ao turista que caminha no início da costa,

Eu só vou perceber se chegar perto,

Se procurar e quiser saber que existe,

Então pra mim,

Meu corpo é isso aqui e dor não existe,

Só a lua sabe o quanto meu corpo resiste,

E o quanto resistiu,

Olha,

A Plantinha caiu,

Ninguém viu,

Mas eu vi,

Vou descer lá e tentar resgatar ela,

Mas depois de um chá,

E depois de eu cochilar a luz da lua.

 

A galera tá curtindo mais esses aqui...