As variações diatópicas e diafásicas em território virtual realizadas por falantes de nível superior






Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)




As variações diatópicas e diafásicas em território virtual realizadas por falantes de nível superior




Carina Zduniak

Gabriel Oliveira  

Samyra Keller















Guarulhos, 2025







RESUMO:


O presente artigo tem como pretensão uma análise comparativa entre os vídeos de Rachel Cecília e Nêgo Bispo, baseada em teorias da sociolinguística que corelacionam o cenário físico em que as falas são projetadas, a estrutura linguística e social acionada pelos falantes, além de analisar a  presença de variantes diatópicas e diafásicas em contexto de cooperação social promovido pelas interações de fala em plataformas digitais, como Youtube

O corpus ilustra como a gestão linguística está associada à compreensão das dinâmicas sociais e à adaptação ao grupo, onde a gramática, longe de ser neutra, se relaciona com as condições socioculturais e a competência situacional, ou seja, a capacidade de adequar o discurso ao contexto específico. 


ABSTRACT:

This article aims to provide a comparative analysis between the videos of Rachel Cecília and Nêgo Bispo, based on sociolinguistic theories that correlate the physical scenario in which the speeches are projected, the linguistic and social structure activated by the speakers, in addition to analyzing the presence of diatopic and diaphasic variants in a context of social cooperation promoted by speech interactions on digital platforms, such as YouTube.

 The corpus illustrates how linguistic management is associated with understanding social dynamics and adaptation to the group, where grammar, far from being neutral, is related to sociocultural conditions and situational competence, that is, the ability to adapt discourse to the specific context.



PALAVRAS-CHAVE: Variação linguística; Decolonialidade; Contracolonialidade.  




1. Introdução 


O leitor verá neste artigo uma análise das variações linguísticas presentes em vídeos que tratam de temas semelhantes. Nego Bispo e Rachel Oliveira, ambos estudiosos e formadores de opinião, posicionam-se em contextos e situações de fala distintos, apresentando suas interpretações acerca dos conceitos de decolonialismo e contracolonialismo. Para aprofundar a análise dos dados, serão aplicadas teorias provenientes da sociolinguística. Além disso, este estudo visa contribuir para a avaliação na disciplina de sociolinguística. A análise aborda a importância de considerar a posição das variáveis linguísticas dentro de categorias hierárquicas e suas relações com os posicionamentos discursivos dos falantes. As variações linguísticas revelam não apenas a diversidade regional, mas também refletem questões de poder e capital simbólico, influenciando a construção social e a autoridade dos signos discursivos. A partir de conceitos de Calvet e Bourdieu, o texto destaca como o uso da linguagem está intimamente ligado às condições sociais e interativas do contexto, sendo moldado por um conjunto de normas e valores culturais presentes no ambiente de comunicação.


2. Metodologia

O artigo demandou três pesquisas fundamentais, inicialmente, respeitando o ponto de vista do observador, definimos o locus, o objeto de análise e as etapas de realização. Continuamente, imprescindível para o desenvolvimento de um pensamento técnico científico, a pesquisa bibliográfica, dentre os textos e argumentos propostos na Unidade Curricular a que este se destina como método avaliativo, Sociolinguística, escolhemos três dos mais aclamados pensadores e desenvolvedores do pensamento sociolinguístico.

Essa etapa sucedeu à definição do objeto de análise, os vídeos, já que assim como toda pesquisa geo e sociolinguística partimos do ponto de vista do observador e em seguido elegemos correntes teóricas que estruturassem a abordagem descritiva para as variações diatópicas e diafásicas identificadas. 

Ato contínuo, e por último, estruturada a fundamentação da pesquisa e análise, desenvolvemos um método comparativo capaz de enaltecer as diferenciações, evidenciando a heterogeneidade da língua, mesmo entre autoridades na temática e material de vídeo divulgado gratuitamente em canal de grande acesso diário de usuários. De tal modo, que a pesquisa pudesse se restringir aos dados qualitativos e não quantitativos, já que não é o objetivo do trabalho explicar as motivações de tais ocorrências, tão somente identificá-las.  



3. Descrição do corpus 


Os vídeos selecionados para esta análise, apresentam aspectos sociolinguísticos suscetíveis a considerações teóricas desse campo de pesquisa. e conforme a intencionalidade do grupo/discentes, esta análise se propõe investigar, identificar e categorizar a variação diatópica e a variação diastrática, presentes no grupo de falantes de língua portuguesa, sendo estes brasileiros, estudiosos e militantes políticos, situados em contextos socioculturais e meios de fala distintos, os quais propiciam a melhor análise.



Descrição dos temas dos vídeos:


Ambos os vídeos abordam a mesma temática, decolonialidade, entretanto as perspectivas socioculturais e históricas, expressões linguísticas e estruturais da fala, partem de diferentes campos interativos. O vídeo I (um) reflete a decolonialidade a partir de embasamentos teóricos que são fundamentados por uma professora universitária da UFMG. 


Descrição do youtube: Primeiro vídeo do projeto Pílulas Decoloniais do grupo Experiências Decoloniais: estudos e práticas coordenado por Rachel Cecília de Oliveira Profa. EBA-UFMG


No vídeo II (dois), Nego Bispo, pensador quilombola, aborda a mesma temática partindo de sua trajetória cultural e política. Se posicionando enquanto contracolonial, explica que essa expressão está atrelada a uma experiência de luta prática e efetiva, e tece críticas à decolonialidade por ser um termo fundamentalmente teórico e desalinhado às lutas organizadas que antecedem ao termo.


Descrição do youtube: Um dos maiores pensadores brasileiros, Nêgo Bispo trouxe reflexões para o lançamento do Programa Lab Causas, do Instituto Elos. Entenda essa iniciativa aqui.

Participaram dessa conversa virtual quem passou pelo Programa Guerreiros Sem Armas (GSA), uma rede com 700 pessoas formadas pelo Instituto Elos e que movimenta a transformação ao redor do mundo. Entenda o GSA aqui.  O trecho que você assiste aqui é um fragmento dessa mesa de lançamento que ganhou o título de “Por um mundo contracolonialista na prática”, que aconteceu em 24 de outubro de 2023. Para assistir o vídeo completo clique aqui: link do vídeo na íntegra.

Pautado nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (ODS), o Programa GSA é um curso internacional realizado todos os anos pelo Instituto Elos que desenvolve pessoas para liderar organizações e comunidades a partir do diálogo e da colaboração. 


Descrição dos falantes: 

Falante Vídeo I- Rachel Cecília de Oliveira, pessoa do sexo feminini, do Estado de Minas Gerais. Graduou-se em Comunicação Social- Publicidade e Propaganda entre os anos 2001 e 2004, na Universidade Católica de Minas Gerais- Puc Minas. Entre os anos 2005 e 2007 cursou Mestrado em Filosofia, na Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG. Tornou-se Doutora em Filosofia entre 2010 e 2014, também pela UFMG. Realizou seu Pós-doutorado entre 2014 e 2015 como bolsista do Community Research and Development Information Service, CORDIS, França, pelo ORT Braude College of Engineering, Braude, Israel, e entre 2016 e 2017 como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brasil, pela Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP. 

Rachel compreende e fala três idiomas de maneira fluente, Inglês, Francês e Espanhol, entretanto escreve razoavelmente nas três línguas. 

  Atua como professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e do Programa de Pós-graduação em Artes da mesma instituição. Participou da diretoria da Associação Brasileira de Estética ABRE por dois mandatos e foi professora visitante na Université Paris I - Pantheon-Sorbonne. Atualmente é editora chefe da Revista Pós do PPGArtes UFMG e líder do grupo Experiências Descoloniais. Trabalha a pluralidade da arte contemporânea nas interseções entre filosofia, teoria, história e crítica das artes. Além disso, atua como crítica e curadora.


Falante Vídeo II- Antônio Bispo dos Santos nasceu em 1959, no Povoado Papagaio, Vale do Rio Berlengas, atual município de Francinópolis, Piauí. Pessoa do sexo masculino, negro, afro-pindorâmico, quilombola do quilombo Saco-Curtume, localizado em São Jõao do Piauí, Nêgo Bispo, nome pelo qual é popularmente conhecido, foi lavrador, poeta, escritor, professor e ativista político, sendo o primeiro de sua geração familiar a estudar formalmente e concluir o ensino médio. Sua formação crítica se deu por mestres e mestras de ofício, que por meio da oralidade lhe repassaram ensinamentos e saberes ancestrais. Ainda em sua juventude, desenvolveu a habilidade de transferir para a linguagem escrita das cartas, as vivências, sentimentos e sabedorias de seus parentes e vizinhos. No ano de 2007, Bispo lançou seu primeiro livro, intitulado inicialmente de Quilombos, modos e significados, renomeado posteriormente em uma reedição no ano de 2015 para, Colonização, quilombos. Modos e significações. É também autor das obras: Quatro cantos (2022); Composto Escola: Comunidades e Sabenças Vivas (2022); A terra dá, a terra quer (2023). 


Nego Bispo recusou ser referido como intelectual, se declarou um relator de pensamentos e saberes, pois para ele um dos grandes problemas da sociedade é a mercantilização do saber, a transformação do conhecimento em mercadoria, em contrapartida a essa problemática, Bispo buscou confluência dos saberes quilombolas e originários mobilizando a biointeração, que tem como princípio extrair, utilizar e reeditar, ciclicidade inerente que se aplica nas relações comunitárias. Propôs o conceito de contra-colonialismo, práticas de revigoração cultural, organização social, política, e todas as manifestações coletivas dos povos colonizados, contra as imposições, denominações e domínios coloniais. Militante de grande expressão no movimento social quilombola e nos movimentos de luta pela terra, foi membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Foi presidente do Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Francinópolis/PI e diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Piauí (FETAG/PI). Faleceu em 3 de dezembro de 2023, aos 64 anos.



4. Análise sociolinguística 

É importante para a fundamentação analítica, considerar o lugar em que as variáveis  ocupam em categorias linguísticas hierárquicas, e como as variações mobilizadas pelos falantes do corpus em análise estão relacionadas a seus posicionamentos discursivos, a maneira a qual constroem seus enunciados e criam interações comunicativas.

Conforme define CALVET, em Sociolinguística, uma introdução crítica (2002), entendemos por variável, um conjunto construído por diferentes formas de realizar a mesma ação, e por variante, cada uma das formas de realização desta ação (p.90). A diversidade linguística dos falantes analisados, evidenciam a presença de variáveis frequentes em determinada região, que compõem e caracterizam a estrutura linguística daquele território, entretanto, para além de um arranjo meramente linguístico, concretiza-se também uma base econômico-simbólica dentro do capital linguístico, atribuindo legitimidade, autoridade e valores aos signos discursivos, que projetam a estrutura social.

Consideremos que, para uma construção discursiva, o sujeito falante parte de um lugar na estrutura sociopolítica e cultural, ele é a corporificação de uma comunidade de valores, e assim direciona seus posicionamentos enunciativos. Os recursos linguísticos acionados para essa construção também são estratégias e consequências sociointeracionais. 

Tanto Rachel Cecília quanto Nego Bispo administram seus turnos considerando o ambiente imediato, relacionando-se com o meio de forma sistemática. Vemos movimentos de proximidade e distanciamento das variáveis linguísticas para que o discurso se faça compreendido, pois a detenção do capital linguístico pautada no campo simbólico, está estritamente ligada à gestão do ambiente extracorpóreo, ao reconhecimento de um grupo, ao engajamento comportamental. 

Pierre Bourdieu discorre sobre como o domínio prático da gramática está relacionado à competência situacional, ou seja, a compreensão das condições sociais e interativas de uma determinada circunstância, para a adequação da produção discursiva. Entende-se que a gramática e a situação são indissociáveis. Aprofunda-se ainda na crítica sociológica em que a linguística está submetida, o deslocamento das noções de gramaticalidade e aceitabilidade, a noção de gramática e gramática legítima (BOURDIEU, 1982, p.2)

Os vídeos analisados nos permitem reiterar que em determinadas situações interativas conjuntas, existem regras culturais estabelecidas que determinam como os indivíduos devem conduzir suas ações, e que a gramática nunca parte de um ponto de neutralidade social e discursiva, as variações estão correlacionadas às condições externas e são inseparáveis.

5. Pesquisa sociolinguística e tratamento dos dados coletados nos vídeos da palataforma YouTube

 

A metodologia de análise sociolinguística por comparação dos vídeos elegidos nos permitirá tratar os dados extraídos, para estudo do comportamento fonético-fonológico dos falantes no fenômeno de cooperação social entre ouvintes e falantes, proporcionado pelas interações mediadas nas plataformas digitais contemporâneas.

Conforme consta na descrição, os vídeos estudados estão publicados de forma gratuita na plataforma Youtube, passiveis de edição, contendo apenas um falante, cujos os mesmos é impossível levantar a totalidade de dados sociais e linguísticos necessários e o corpus é restrito a uma situação de falar e muito curto.

Desta feita, é impossível garantir que se trata de língua vernácula, por este motivo o objetivo do estudo aqui apresentado se distanciará da classificação social, requisito imprescindível para apontar um resultado ou concluir os estudos sociolinguístico apontando fenômenos sociais. Senão vejamos na consideração a despeito da indissociação da língua, história e sociedade de Alkimin (2006, p.24)

Ora, a linguagem é, eminentemente, um fato social. Tem-se frequentemente, repetido que as línguas não existem fora dos sujeitos que as falam e, em consequência disto, não há razões para lhes atribuir uma existência autônoma, um ser particular. [...] Pois, se a realidade de uma língua não é algo substâncial, isto não significa que seja real. Esta realidade é, ao mesmo tempo, linguística e social.

Para maior concretude de suas ideais, na defesa contra outros pensadores, tais como Bakhtin (Carvalho, 2009, p.110), Alkmin (2006,p.25).

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através de enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua.

Não obstante, ainda que tenhamos levantado concepções basilares da pesquisa sociolinguística, não é possível esgotar as inúmeras interpretações teóricas possíveis, tampouco as diversas e valiosas análises sociolinguísticas nos objetos estudados. De todo modo, por meio da pesquisa variacionista no método comparativo, identificaremos variantes diatópicas, das variações ocorridas na comparação da mesma língua em regiões distintas e algumas variantes diafásica, que são variações situacionais nas quais o falante emprega mais ou menos formalidade no discurso, sendo que ambas se apresentam heterogêneas e alternam nas funções sociais e estilística da fala.

É mister reafirmar que, o presente objeto de estudo é a língua falada e verbalizada pelos oradores em ambos os vídeos, diferenciando-se e equiparando-se entre si, mesmo sendo possível estudar outros recursos retóricos também utilizados.


 5.1 - Transcrição da interação verbalizada pelos falantes


Vídeo I: O que é pensamento decolonial?

https://www.youtube.com/watch?v=RpEY_aJgYUI

 

Transcrição em tópicos

 

A - INTRODUÇÃO - apresentação do tema central


A.1 - Pergunta de ativação a investigação/estudo sobre decolonialidade

U qui é pensamentu decoloniau?

[pausa longa]

Pois zé, primera coisa qui vem a mentchi, qui dá aquela puga atrás da orelha é

[pausa longa]

Pur que decoloniau e não descoloniau? Ou pós-coloniau?

Pois zé, a gentchi vai falá dissu num outru vidiu.

[pausa longa]


A.2 - Objetivos gerais do vídeo


Pur que primeru a gentchi vai tê qui entendê di ondi vem issu i purque qui esssi essa construção de pensamentu di pensamento é importatchi

[pausa longa]



B - BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE DECOLONIALIDADE



Si a gentchi tá falandu di decoloniau a gentchi tá óbviamentchi si referindu a uma outra istrutura di pensamento [pausa curta] A coloniau [pausa curta] tão [pausa curta] só é possíveu decolonizar purque ixistchi uma colonização [pausa curta] nós fomos colônia [pausa curta]  mas o fatu de termus sidu colônia [pausa curta] não faz com qui nossa forma di pensá, vivê, sentchí, existchí tenha deixadu di ser colônia juntu com a independência du Brasiu

[pausa longa]

Pur isso qui a gentchi tem qui fazê a construção di um pensamento decoloniau

[pausa longa]



C - PENSAMENTO DECOLONIAL



O que qui é um pensamentu coloniau ?

[pausa longa]

Surgi na europa, a partir du séculu quinzi comu uma forma di construí um pensamento qui coloca a europa comu centro du mundu

[pausa longa]

Ou seja [pausa curta] dentru di uma iscala di referências [pausa curta] dentru di uma hiérarquia di valoris [pausa curta] a europa istá nu topu i todas as otras formas di pensá, di sentchí, di existchí, di produzí artchi [pausa curta] são inferioris aaa da europa

[pausa longa]

U qui trasnforma u mundu todu em uma busca constantchi daquilo qui a europa já consquistô

[pausa loga]



D - DECOLONIZAÇÃO NA PRÁTICA



Intão já quii terminar di ser colônia [pausa curta] deixar di ser colônia não nus faz necessariamentchi decoloniais [pausa curta] é necessáriu qui a gentchi [pausa curta] tentchi qui a gentchi faça um isforçu di pensá outras maneiras di existí nu mundu, di pensar u mundu, di sentir u mundu [pausa curta] qui não necessariamentchi a europeia [pausa curta] purque afinal a gentchi não é a europa né? A gentchi taquí nu Brasiu i a gentchi tem qui dá espaçu pra quii nossa própria forma di pensá, di sentí, di si conhecê exista [pausa curta] Não somentchi ela [pausa curta] a dus povus amerindius qui sempri estiveram pur aqui [pausa curta] dus africanus i das diásporas africana qui agora é partchi du Brasil ou dus chinesis, dus indianus [pausa curta] Todas colônias qui foram submetidas a essa lógica di pensamentu qui coloca a europa comu centru, comu referência, comu o topo da iscala di valores

[pausa longa].



E - CONSIDERAÇÕES FINAIS




Tão pensamentu colonial é um pensamento qui coloca a europa numa horizontalidade com outras formas di pensá, di sentí, di viver, di conhecer, ou seja, dá ispaçu pra outras formas existirem i coloca elas dentru dum mesma categoria na iscala di valoris [pausa curta] ondi ela não é u melhor aquilo a [pausa curta] para ondi a gencthi devi caminhar, nossu distinu necessáriu mas mais uma forma di pensá [pausa curta] di vivê.



Vídeo II: Eu não sou decolonial, eu sou contracolonial | Nêgo Bispo no Instituto Elos https://www.youtube.com/watch?v=2pzGaNTT5wU Transcrição em tópicos A - ABORDAGEM INICIAL: Importância da crítica Eu achu muinto necessária a crítica [pausa curta] na veradi a crítica quem alimenta as nossas contradições i as nossas contradições é qui alimentam as nossas trajetórias [pausa curta] É muintu bom qui aconteçam a crítica pra qui aconteçam qui a gentchi tenha mais cuidado com as co para qui as contradições não si transformim em consequência [pausa longa] B - RETIFICAÇÃO: “eu sô contracolonialista eu não sou dé” B.1 - Decolonialista x Contracolonialista a partir de sua trajetória Mas é [pausa curta] é dizê que tem muintas pessoas mi citando como dé coloniau [pausa curta] décólonalista [pausa curta] olha [pausa curta] nada contra os décoloniais [pausa curta] eu achu qui elis são tão nécéssário contra [pausa curta] contra não, quantu us contracoloniais [pausa curta] mas eu sô contracolonialista eu não sou dé [pausa curta] até purque eu não sô di teuria eu sô di trajétória [pausa curta] i quando nóis iscrevemus u contra cólonialismu i lançamos em dois miu i quinzi na UNB, eu nem sabia qui tinha getchi iscrenu sobri o décólónialismu [pausa curta] eu ouvi falá em décólónilismu décólónialidadi im dois mil i quinzi pra cá, qui é quando eu coméçu a visita as universidadi [pausa longa] C - COLONIALISMO: “u colonialismo nunca parô” I nu começu eu demorei muintu a intendê u que qui é sê décoloniau, u que qui deiscolonizá. Eu demorei muintu pra intendê purqué qui eu demorei? Pur que u colonialismo nunca parô [pausa longa] Por exemplu até hoje eu nunca intendí us póis-cólóniais [pausa curta] como póis-coloniais? [pausa curta]U colonialismu continua cada veiz mais éficiéntchi cada veiz mais éficaiz [paua longa] C.1 - Início do processo colonial no Brasil Num iniciu elis levaro pau Brasiu, depois levaru u oro, levaru u açúcar, levaru u café, levaru ué [pausa curta] u qui bem intenderu di lévá [pausa longa] C.2 - O colonialismo hoje I hoji não é diférentchi, levaru u ventu, tão levanu u sou, elis tão levandu u sou em forma di energia, tão levanu u ventu em forma di energia [paua longa] C.3 - Diferenciando: generosidade dos povos indígenas e as submissões atuais brasileiras a Europa Iscancaradmentchi [pausa curta] i u povu ditu brasilero [pausa curta] qui tantu falam mal dus póvus indígena [pausa curta] ora [pausa curta] us póvus indígena, us póvus órigináriu quandu receberu us cólónialista aqui us preséntiaru purque são povus generosos [pausa curta] us preséntiaru pur pura génerosidadi diférentchi us brasileru tão entreganu u solu i tão intreganu u ventu não por generosidadi mas pur submissão [pausa curta] submissão tecnológica, submissão é [pausa curta] térritóriau, submissão intelectuau, submissão tótau [pausa longa] Intão u colonialismo continua a todu vapô [pausa longa] D - RETOMADA DAS DIFERENCIAÇÕES: Decolonização X Contracolonização, a partir de sua trajetória e desfecho Aí eu tô colocanu isso é pra dizê qui [pausa curta] quau é a grandi diferença entri sê colonialista i di sê décóloniau ? [pausa curta] pra você sê décoloniau ou pra você si deiscólonizá é precisu qui você tenha sido cólonizadu [pausa curta] intão tranquilu, si você foi cólonizadu i istá si décolonizandu [pausa curta] tá tudu dentru du [pausa curta] duu propostu, tá tudu dentru dus conformi [pausa longa] U qui ócorri é qui nóis dentru dus quilombus não fomus cólónizadus [pausa curta] intão si nóis não fomus cólónizados nói não pudemu ser décólóniais i décólónizadus i nem póis-cólóniais [pausa curta] nóis somus contra purque nóis sempri fomus contra, tantu fomus contra qui nóis [pausa curta] não nus submetemus, não nus subjbugamos [pausa longa] Continuamus com us nossos módu di vida diférenti, com us nossos módu di vida autonomu, com us nossu jeitu di sê univérsau


5.2 – Análise sociolinguística e variacionista diatópica dos vídeos I e II

 Variação diatópica 

A variação diatópica é apresentada desde o estudo de língua contemporâneo do ensino básico, técnico e superior de instituições públicas, às provas vestibulares, e já está presente nas primeiras percepções do indivíduo no que diz respeito a variação sociolinguística em seu contexto de fala quando se depara com outro falante migrante, quando este é o migrante, ou mesmo, por meio de recursos de mídia, digitais nas redes sociais e demais plataformas de divulgação de conteúdo através de vídeos e áudios. Para nos elucidar Faraco (2011 apud Carvalho, 2009, 118)

aponta que o levantamento das diversas variedades geográficas de uma língua revelou uma realidade linguística complexa e heterogênea, obrigando, assim, a se estabelecer uma correlação entre a variação linguística, a língua e a realidade histórica e social das comunidades.

Neste ínterim, selecionamos algumas palavras ditas pelos falantes, Professora Raquel e Nêgo Bispo, para apresentar algumas variantes. O corpus resultante da análise aponta diversas realizações da lateral pósvocálica [l] em que o falantes escolhe substituir [l] final pela semi-vogal [w] transformando a sílaba em um ditongo

[...] o contraste entre /l/ e /w/ depois de vogal não deve ir ao ponto de se articular o /l/ depois de vogal exatamente como o /l/ antes de vogal. Salvo no extremo sul do país, esta pronúncia indiferenciada soa anômala, e dá a impressão de haver um ligeiro /i/ depois do /l/ de maneira que uma palavra como cal quase se confunde com cale ou mel com mele (Câmara Jr., 1977, p. 31 apud Pinho e Margotti, 2010)

O trecho extraído da obra Estrutura da Língua Portuguesa explicará a mudança na realização do fonema, que ocorre da seguinte maneira:

[...] além do movimento da ponta da língua junto dos dentes, há um levantamento do dorso posterior da língua para junto do véu palatino, dando o que provavelmente os gramáticos latinos chamavam o l pinguis ou “gordo”. Daí decorre uma mutação, que em lingüística diacrônica se chama “vocalização” da consoante: cessa a elevação da ponta da língua junto aos dentes, a elevação posterior do dorso não chega a interromper a corrente de ar, e há um concomitante leve arredondamento dos lábios. O resultado é um /u/ assilábico, e mal torna-se homônimo de mau, vil de viu e assim por diante. Em outros termos, desaparece da língua o /l/ posvocálico [...]. (MATTOSO CÂMARA Jr., 2008 [1970], p. 51 apud Pinho e Margotti, 2010).


Vamos observar também a realização do zero fonético caracterizado pela não ocorrência do ‘erre’ final, tradicionalmente identificado em todas as regiões brasileiras e em muitos outros territórios falantes da língua português, como resultado do processo de colonização e por influência inclusive da língua tupi (Marroquim, 1934, p.34). Essa substituição e apagamento não serão estudados, dada sua naturalização inclusive em contextos de fala estritamente formais

O cancelamento do (r) final em nominais é um fenômeno de cerca de 150 anos de idade [...] não sendo, portanto, tão antigo quanto o cancelamento de (r) final de verbos, nem tão incipiente quanto o cancelamento dos (r')s internos (que foi apontado pela primeira vez em Jucá Filho (1939) (Oliveira, 1997, p.40 apud Carvalho, 2009, p.133)

 De todo modo, alguns exemplos serão selecionados e elencados objetivando a exposição dessas palavras:


QUADRO COMPARATIVO

OCORRÊNCIA DA SUBSTITUIÇÃO DO [l] POR [u]

NÃO OCORRÊNCIA O [r] FINAL





ABORDAGEM DESCRITIVA DA LÍNGUA FALADA 

 variação diatópica nas realizações de [e] e [o] nos vídeos I e II



À luz dos ensinamentos do renomado linguista brasileiro Professor Sírio Possenti (1996 apud Alves, Carvalho e Barbosa, 2024),  a preocupação da gramática descritiva é a descrição e explicação da língua tal qual ela é falada, de tal forma, que se afasta dos ditos normativos, já que busca identificar fenômenos e causas para as variações linguísticas existentes na oralidade.

Seguindo essa máxima, identificamos nos discursos orais algumas realizações que diferenciam os informantes na oralidade que provavelmente, sendo impossível concluir na restrita observação de vídeos e dados captados na internet, expressam-se sob influência de seus contextos geográficos, qual seja, o informante Nêgo Bispo, a época do vídeo, nascido e morador do Estado do Piauí, situado na região nordeste do país, apresenta posição-política de valorização de sua cultura de tal modo que, mesmo sendo personalidade política, palestrante e escritor, atividades que  propiciam a interferência de outras escolhas linguísticas, enaltece a realização do sotaque nordestino de sua origem.  Já a Professora Rachel, com longa trajetória acadêmica, ainda que pertencente ao Estado de Minas Gerais demonstra acentuada interferência da gramática normativa em sua oralidade, contudo, nota-se que sotaques e a realização de fonemas advindos dos desdobramentos culturais e históricos mineiros, até a data de realização do vídeo.

Em estudo recente de Hora e Brandão (2021 apud Câmara Jr., 1970) apresentou o quadro das vogais PB, das posições tônicas de cada vogal, considerada a ideal

Objetivando expandirem seus estudos geolinguísticos, Hora e Brandão afirmam e ensinam que 

Sabe-se que, ao ser considerada a posição pretônica, as vogais médias, sejam anteriores sejam posteriores, podem sofrer um processo de neutralização, em que uma das oposições se perde, e a posição resultante depende, muitas vezes, da distribuição diatópica (1), embora em alguns casos uma restrição estrutural pode condicionar o uso, como veremos mais adiante

Muito precisamente, apresentaremos  




A considerar a ocorrência do processo de naturalização da alternância da tonicidade, quando comparamos um falante da região nordeste com um falante da região sudeste, vamos observar a realização de [e] e [ɛ] e [o] e [ɔ] na palavra ‘decolonial’ :



Para além das comparações, tornemo-nos a observar a realizações naturalizadas das vogais [e] e [ɛ] e [o] e [ɔ] em sílabas pretônicas, como ocorreu nas situações abaixo elencadas:



Os estudos podem iniciar ou instigar pesquisas científicas geolinguísticas que visam a identificação das realizações culturais naturalizadas presentes nos discursos de oradores, ou seja, falantes não ideais, mesmo após logo percurso de interferências da gramática normativa e adentramento e/ou conexão com outros contextos, territórios, regiões, falantes, etc.

Restou-se demonstrado na análise descricional diatópica que, ainda que os falantes possuam longa trajetória acadêmica, política ou científica, é possível identificar realizações fonéticos e fonológicas oriundas de seus territórios geográficos de sua origem, nascimento, cultura, materno e afins.


5.3 – Análise sociolinguística e variacionista diafásica dos vídeos I e II

 Variação diafásica 

Diferentemente da variação diatópica, a variação diafásica em contexto formalidade é notada aproximadamente na adolescência e fase adulta do indivíduo, pois, mesmo presente desde o início da vida escolar, momentos de interação com programas televisivos, nos primeiros anos da vida a língua tem um único objetivo que é a comunicação, anota-se também a incapacidade de abstração da criança, até nas realizações escritas não dispõem de vasto seguimento normativo sintático, bastando-se apenas que cumpra o papel semântico.

De modo geral, a variação diafásica é situacional e ocorrerá em todos os indivíduos, desde a infância, pois se trata do estilo, práxis ou maneira de se comunicar adaptando-se ao contexto em que se insere ou mesmo como deseja se comunicar nesse contexto, seja com a mãe, com o pai, com os irmãos ou outros familiares em casa, na escola com os amigos, com os colegas do cursinho de inglês, ou posteriormente, com outras personagens de sua trajetória tais como, autoridades em repartições públicas, sacerdotes religiosos, com animais de estimação, a esposa e diversos outros.

Souza (2016, p. 22) nos ensina que 

Variação diafásica é denominada também por variação estilística. A variação diafásica (do grego diá= através de; phásis = expressão, modo de falar) é registrada nos usos diferenciados que o indivíduo faz da língua conforme a situação/contexto em que ele se encontra. Assim, esse tipo de experiência da variação diafásica é aquela em que as pessoas falam em casa, na mesa de um bar, num encontro com os amigos, com o chefe, dentre outros. Quando escrevemos, registramos esse tipo de variação na escrita de um bilhete deixado na porta da geladeira, em um e-mail que se envia a um colega, de uma resenha a ser encaminhado ao professor, etc. 


Assim, é possível compreender a existência do emprego de diversos recursos da linguagem verbal e não verbal para dispensar ruídos na comunicação com o interlocutor


A variação diafásica, tanto no nível fônico quanto no morfossintático, apresenta: ausência do morfema de plural em alguns dos constituintes do sintagma nominal, na ocorrência flexionada do determinante menos (Mota, 2002 apud Souza, 2016, p. 23)


Desse modo, o estudo visa avaliar um único indivíduo em suas diversas situações de comunicação para identificar maior ou menor ocorrência de formalidade, aproximando-se da gramática normativa ou, quando se compara dois ou mais falantes em seus discursos.

Na análise dos vídeos estudados I e II, os elementos de comunicação comportamental e visual serão dispensados, todavia, imageticamente, nota-se que existe um alto grau de informalidade no vídeo II quando comparado ao vídeo I, já mencionado anteriormente, mas ainda não se pode afirmar que, ao nível dos saberes e vivências da informante do vídeo I ela tenha nos proporcionado um vídeo inteiramente formal.




ABORDAGEM DESCRITIVA DA LÍNGUA FALADA 

 variação diafásica nos vídeos I e II



A abordagem e estudo da variação diafásica nos vídeos ocorrerá por meio da análise por comparação, descartados dados não verbais do campo imagético e comportamentais dos informantes 1 e 2 e, consideraremos a explanação acerca do mesmo tema ‘A decolonialidade’.

Em linhas gerais, o discurso da Professora Rachel apresenta um grau de formalidade a mais quando comparado ao discurso de Nêgo Bispo, já que se orienta por um script que iniciará com uma pergunta, introdução, desenvolvimento e considerações finais, almejando instigar, estimular o pensamento, conectar com outros temas e faz escolhas linguísticas que atinge diversos interlocutores.

Por outro ângulo, a fala de Nêgo Bispo foi extraída de um vídeo de maior dimensão, tratando-se de um fragmento de um evento digital que atraiu inúmeros apoiadores e estudiosos da temática, logo, pode se expressar com um rigor menor no que diz respeito a chamada norma padrão ou norma culta, que inclusive é objeto de crítica pelo filósofo, quando se posiciona contracolonialista. O escritor também evidenciará que está em um discurso menos formal ao expor não somente seus pensamentos, mas também conecta com seu posicionamento político, opinião e dá exemplos de sua trajetória militante em defesa da indenidade étnica de todos os povos vitimados pela colonização europeia no Brasil.

Em ambos os vídeos não há palavrões, gírias e jargões. Contudo observa-se que os falantes utilizam expressões brasileiras comumente percebidas em discursos orais informais.

Vídeo I: “Pois zé”, “primera coisa qui vem a mente”, “puga atrás da orelha”, “di ondi vem issu”, “dá espaçu”.

Vídeo II: “na veradi”, “alimentam”, “eu não sô di teuria eu sô di trajétória”, “qui bem intenderu”, “tranquilu”, “tá tudu dentru dus conformi”.

 


REALIZAÇÕES DE INFORMALIDADE 


Vídeos I e II


VÍDEO I - informante 1: 


  • Pois zé, primera coisa qui vem a mentchi, qui dá aquela puga atrás da orelha é

  • Pois zé, a gentchi vai falá dissu num outru vidiu.

  • a gentchi 


VÍDEO II - informante 2: 


  • Eu achu muinto necessária a crítica 

  • a crítica quem alimenta as nossas contradições i as nossas contradições é qui alimentam as nossas trajetórias

  • É muintu bom qui aconteçam a crítica

  • a gentchi tenha mais cuidado 

  • Mas é [pausa curta] é dizê que tem muintas pessoas mi citando como dé coloniau 

  • nada contra os décoloniais [pausa curta] eu achu qui elis são tão nécéssário contra [pausa curta] contra não

  •  mas eu sô contracolonialista  eu não sou dé [pausa curta] até purque eu não sô di teuria eu sô di trajétória 

  • I nu começu eu demorei muintu a intendê u que qui é sê décoloniau, u que qui deiscolonizá. Eu demorei muintu pra intendê purqué qui eu demorei? 

  • Aí eu tô colocanu isso é pra dizê qui [pausa curta] quau é a grandi diferença entri sê colonialista i di sê décóloniau ?

  • intão tranquilu, si você foi cólonizadu i istá si décolonizandu [pausa curta] tá tudu dentru du [pausa curta] duu propostu, tá tudu dentru dus conformi

  • us póvus órigináriu quandu receberu us cólónialista

  • U qui ócorri é qui nóis dentru dus quilombus não fomus cólónizadus [pausa curta] intão si nóis não fomus cólónizados nói não pudemu ser décólóniais i décólónizadus i nem póis-cólóniais [pausa curta] nóis somus contra purque nóis sempri fomus contra, tantu fomus contra qui nóis [pausa curta] não nus submetemus, não nus subjbugamos

  • Continuamus com us nossos módu di vida diférenti, com us nossos módu di vida autonomu, com us nossu jeitu di sê univérsau


Consoante a relação de sentenças acima apresentadas é possível identificar que a informante no vídeo do I em que pese apresente-se em uma estrutura mais formal e talvez em vídeo editado (impossível concluir sem recursos técnicos ou entrevista pessoal), também apresenta ocorrências de informalidade no discurso, o que demonstra que a interação também almejava dialogar com maior proximidade de seu público. Não apenas termos, mas também ao incluir a ideia de que a descolonização é um caminho a seguir e incluindo-se juntamente com os internautas na relação de envolvidos e propagadores dos ideais colonialistas.

Nas sentenças extraídas do fragmento da explanação do informante de número 2, nos deparamos com as narrativas muito bem fundamentadas em termos teóricos de vivências de um político, nas quais irá sempre se incluir no discurso, incluir o público ouvinte na luta contra o colonialismo, até mesmo falará diretamente a um ouvinte imaginário que representa a ideia de diálogo com alguém que o questiona, na passagem você foi cólonizadu, além de outras ocorrências como a não concordância de plural.



REALIZAÇÕES DE FORMALIDADE 

Vídeos I e II



VÍDEO I - informante 1:

  • referindu a uma outra istrutura di pensamento 

  • só é possíveu decolonizar purque ixistchi uma colonização [pausa curta] nós fomos colônia [pausa curta]  mas o fatu de termus sidu colônia [pausa curta] não faz com qui nossa forma di pensá, vivê, sentchí, existchí tenha deixadu di ser colônia juntu com a independência du Brasiu

  • O que qui é um pensamentu coloniau ?

Surgi na europa, a partir du séculu quinzi comu uma forma di construí um pensamento qui coloca a europa comu centro du mundu. Ou seja [pausa curta] dentru di uma iscala di referências [pausa curta] dentru di uma hiérarquia di valoris [pausa curta] a europa istá nu topu i todas as otras formas di pensá, di sentchí, di existchí, di produzí artchi [pausa curta] são inferioris aaa da europa

  • pensamentu colonial é um pensamento qui coloca a europa numa horizontalidade com outras formas di pensá, di sentí, di viver, di conhecer, ou seja, dá ispaçu pra outras formas existirem i coloca elas dentru dum mesma categoria na iscala di valoris [pausa curta] ondi ela não é u melhor aquilo a [pausa curta] para ondi a gencthi devi caminhar, nossu distinu necessáriu mas mais uma forma di pensá [pausa curta] di vivê.


VÍDEO II - informante 2 : 

  • É muintu bom qui aconteçam a crítica pra qui aconteçam qui a gentchi tenha mais cuidado com as co para qui as contradições não si transformim em consequência

  • contracolonialista

  • décólónilismu

  • décólónialidadi

  • U colonialismu continua cada veiz mais éficiéntchi cada veiz mais éficaiz. Num iniciu elis levaro pau Brasiu, depois levaru u oro, levaru u açúcar, levaru u café, levaru ué [pausa curta] u qui bem intenderu di lévá. I hoji não é diférentchi, levaru u ventu, tão levanu u sou, elis tão levandu u sou em forma di energia, tão levanu u ventu em forma di energia

  • purque são povus generosos [pausa curta] us preséntiaru pur pura génerosidadi diférentchi us brasileru tão entreganu u solu i tão intreganu u ventu não por generosidadi mas pur submissão [pausa curta] submissão tecnológica, submissão é [pausa curta] térritóriau, submissão intelectuau, submissão tótau


Ao passo que avançamos dos estudos da informalidade para a formalidade do discurso comparado, percebemos que dentro daquilo que se mostra mais formal do que outro também apresenta informalidade e o inverso também ocorre, principalmente quando colocamos maior atenção a situação de fala, público, histórico e escolhas profissionais, regionalidades e vivências socioculturais. Obviamente que na aula preparada e editada pela Professora Rachel, na qual ela elegeu os momentos adequados para divulgação ao seu público até então desconhecido, possui mais formalidade do que o vídeo de Nêgo Bispo (informante 2).

Muito embora Nêgo Bispo em sua militância e participação de evento para um público muito mais palpável do que de Rachel Cecília esteja em grau de afinidade discursiva e falando para pares, este era o orador responsável por explicar concepções teóricas a partir de suas experiências, nesta ocasião também carregou de formalidade a sua fala e, no fragmento analisado é possível perceber diversas realizações de formalidade na mesma situação.



6. Conclusão 

A análise comparativa entre os dois vídeos evidencia diferentes perspectivas sobre a historicidade da colonização. Nêgo Bispo e Rachel Cecília compartilham suas ideias a partir de um pensamento contracolonial, como define Nêgo Bispo, e decolonial, segundo Rachel.

No vídeo I, Rachel Cecília, professora universitária, adota uma postura mais formal, refletida em sua escolha de palavras, gestos, cenário e figurino. Já no vídeo II, Nêgo Bispo, ativista, apresenta uma abordagem mais informal, também expressa por meio de seus gestos, postura, cenário e figurino.

Rachel defende o ponto de vista decolonial, que, segundo ela, enfatiza a necessidade de questionar a centralidade europeia nos processos históricos e epistemológicos. Por outro lado, Nêgo Bispo rejeita a ideia de decolonialidade e apresenta a contracolonialidade como um conceito que rejeita a colonização desde suas raízes, valorizando modos de vida autônomos, como os praticados pelas comunidades quilombolas.

Ao comparar as duas perspectivas, percebemos que a reflexão teórica, aliada às práticas sociais, desempenha um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e plural. Comparar, compartilhar e compreender diferentes visões de mundo são práticas fundamentais. Reconhecer as diversas vivências e saberes compartilhados por cada um possibilita abrir espaço para a coexistência de múltiplas formas de pensar, viver e conhecer.

Já no tocante às pesquisas e análise dos dados geo e sociolinguísticos nas comparações dos informantes 1 e 2, foi possível constatar que há a presença de variantes diatópicas e variantes diafásicas em ambos os discursos, a considerar a posição geográfica no território brasileiro onde passar maior parte de suas vidas, ainda que sob interferência de eventos que estimulam a comunicação através da gramática normativa e explanação respeitando a chamada norma culta, tais como experiências em contexto acadêmico de congregação estudantil.





Bibliografia



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BOURDIER, Pierre- A economia das trocas linguísticas- EDUSP, 2018.

CALVET, Louis-Jean, Sociolinguística uma introdução crítica- Parábola, 2002. 

CARVALHO, Lucirene da Silva. OS róticos em posição de coda: uma análise variacionista e acústica do falar piauiense. João Pessoa/PB, 2009. Work. pap. linguíst., n.2.: 67-88, Florianópolis, 2010

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MARROQUIM, Mario. A Língua do nordeste (Alagoas e Pernambuco). Companhia Editoral Nacional. São Paulo/SP. 1934

PINHO, Antonio José de; MARGOTTI, Felício Wessling. A VARIAÇÃO DA LATERAL POSVOCÁLICA /L/ NO PORTUGUÊS DO BRASIL. UFSC. Work. pap. linguíst., n.2.: 67-88, Florianópolis, 2010

SOUZA, Francisca Ferreira de. O estudo da variação linguistica e suas contribuições para o ensino. Cajazeiras/CE. 2016


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